Estamos, enquanto espécie, habituados a partilhar. Enquanto indivíduos também. Dividimos espaço e recursos, de forma natural ou obrigados a isso, desde sempre. Até agora esta coabitação tem acontecido entre elementos da nossa própria espécie e entre a nossa e outras espécies, algumas delas mais recentes, outras que habitam o planeta Terra há muito mais tempo que o ser humano. Mas este século trouxe-nos uma novidade, que nunca em momento algum da história da evolução da Humanidade tinha acontecido: vamos coabitar com o que virá a tornar-se um novo tipo de “ser”, uma forma de “vida” não orgânica — reparemos no paradoxo — que, independentemente da forma física que possa tomar, ou não, será a nossa grande companhia e desafio no futuro. Chama-se Inteligência Artificial e os pais somos nós. Pais criativos, não criadores.
Chamar a IA de nova espécie não será ainda propriamente adequado, mas nos primórdios do seu aparecimento teremos de nos ater à linguagem e às palavras que temos disponíveis. Estamos à beira de revisitar palavras, significados, conceitos e definições, como os do corpo, alma, espírito, emoção, sentimentos, vida, morte. E teremos de admitir formas de hibridismo que vão muito mais longe do que quaisquer manipulações genéticas que possamos fazer entre espécies biológicas.