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Cinema

“Em democracia, devemos permitir a divulgação de todas as ideias, mesmo as más”: “Brincar com o Fogo”, um filme sobre um radical

Em “Brincar com o Fogo”, assistimos ao drama de um jovem francês em processo de radicalização de extrema-direita. “Não há uma razão unitária para a radicalização de jovens na Europa, seja de pendor islâmico, seja de extrema-direita”, acreditam as cineastas Delphine e Muriel Coulin, com quem falámos

Pierre (Vincent Lindon) enviuvou cedo e dedica-se a cuidar dos filhos. Louis sai-se bem nos estudos, Félix, ou Fus, envereda por caminhos perigosos

Pierre é um operário especializado no campo ferroviário, capaz de liderar equipas que mergulham nas entranhas de uma locomotiva TGV como um experiente cirurgião. Vive na região de Metz, bastião industrial da Lorena, está na casa dos 50 e tem na alma o orgulho proletário. Em tempos, antes de enviuvar precocemente, foi sindicalista, conhece a dureza das lutas laborais. Entretanto, a braços com dois filhos e sem o amparo de mulher, Pierre virou-se para casa, a cuidar da família. Quando o filme começa, os filhos estão a chegar à idade adulta. Um deles, Louis, segue em frente nos estudos, está na calha para se transferir para Paris, frequentar a Sorbonne. É o exemplo acabado do jovem que apanha o elevador social e vai chegar onde o pai nunca pôde. O outro, Félix, a quem chamam Fus, ficou-se por um curso profissional, a seguir a via paterna da metalomecânica sem grande gosto ou aproveitamento. Está desempregado, ensimesma-se, vagueia. Pelos estádios de futebol, pelos grupos de cabeça rapada, pelos episódios de violência racista, arregimentado por amigos que o levam até ao coração do radicalismo de extrema-direita. É um triângulo masculino onde se instala um drama existencial, a que o filme nunca dá nem plena explicação, nem modo de desatar.