Ainda que o cinema de Dumont tenha começado a mudar de voz e a adotar um tom burlesco a partir de “O Pequeno Quinquin” (2014), permanece inalterado na sua essência. De facto, o que continua a movê-lo é o desejo de dar a ver o humano como um misto inextricável de bem e mal, graça e caos, espírito e natureza, através da análise de espaços e corpos (muitas vezes, os da França rural) que, apesar da aparente normalidade, servem de palco à batalha dessas forças antitéticas. É o que volta a acontecer em “O Império”, que arranca sob o signo do confronto: aquele que opõe a solenidade da música (um adágio de Bach) à banalidade das imagens, que nos instalam numa anónima vila costeira do norte de França, assistindo aos banhos de sol de uma rapariga local. É pelo ponto de vista desta personagem que, nas sequências iniciais, se produz o retrato naturalista de uma comunidade onde — como é costume — algo não bate bem.
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Cinema: Menos do que um filme, “O Império” é um tique nervoso
Estreia. Uma space opera centrada na luta de duas forças extraterrestres pelo controlo da Humanidade, que se deixa ler como uma paródia da saga “Star Wars”. Por preguiça, o cineasta Bruno Dumont esboça uma pálida caricatura de si mesmo