A inauguração daquela discoteca “é como a descolagem de um foguetão”, diz-nos May (Anaïs Demoustier), vestida e calçada a rigor para a festa, filmada por Patric Chiha a partir dos seus saltos altos. Quem nos conta a sua história é a porteira da boîte “sem nome”, na voz taciturna e na presença sempre enigmática de Béatrice Dalle, que não prefigura um happy end. E depois May abandona-se à dança na discoteca. Uma cena, depois outra e outra ainda, com a dança sempre presente — e um filme inteiro vai construir-se através dela. Entre uma dança e outra, cruzará May o caminho de John (Tom Mercier), que a observa na pista de um balcão superior. Na verdade, eles conheceram-se antes, mas num passado já distante que só ela recorda. A transposição cinematográfica, muito livre e contemporânea, de “A Fera na Selva”, novela de Henry James, começa certamente por este reencontro, com um mútuo olhar fulminante.
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Cinema: a dança sem fim de Patric Chiha
“A Fera na Selva”, que agora chega às salas, adapta a homónima novela de Henry James que também originou “A Besta”, de Bertrand Bonello, estreado entre nós em junho. Mas os dois filmes nada mais têm em comum