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Cinema. “Ubu”, invulgar atrevimento no cinema português

Sátira de um tiranete que faz tábua rasa e destrói tudo quando começa a mandar, “Ubu”, belo atrevimento de Paulo Abreu a partir da peça de Alfred Jarry, é um filme invulgar no cinema português

Miguel Loureiro encarna Ubu com alma e coragem, num trabalho fabuloso e divertido, secundado com rigor por Isabel Abreu

Precursora do surrealismo e do teatro do absurdo, “Ubu Rei”, peça em cinco atos escrita por Alfred Jarry (1873-1907) em jeito de paródia a um professor grotesco, foi moderna avant la lettre desde a sua publicação em finais do século XIX, desafiou hábitos e convenções, confrontou plateias de burgueses com a sua própria avareza e vilania. Instigado pela esposa e intoxicado pela vontade de poder, o protagonista da história assassina o rei Venceslau e usurpa o trono de uma Polónia imaginária, destruindo tudo à sua volta em seguida, até conduzir o trono à ruína da forma mais cruel e absurda. Paulo Abreu, que trabalha há mais de três décadas no cinema português como realizador de curtas, documentários e como diretor de fotografia, aventurou-se a adaptar “Ubu”, estreando-se finalmente, e tantos anos após o início da sua atividade, na longa-metragem de ficção. E o resultado é tão surpreendente quanto a envergadura do risco, já que o texto é incendiário, histriónico, dado a extravagâncias alheias a qualquer tipo de naturalismo. “Ubu” foi rodado durante a pandemia, com produção da Uma Pedra no Sapato. Miguel Loureiro interpreta Ubu, Isabel Abreu é a senhora Ubu a mexer os cordelinhos em segundo plano — excelentes intérpretes que já contracenaram nos palcos.