Ao longo de 2016, a cineasta francesa Alice Diop partiu para Saint Omer, localidade do norte de França que dá título a este filme, para acompanhar o julgamento de Fabienne Kabou, uma estudante senegalesa, imigrante em França, acusada de ter morto a sua própria filha de 15 meses. A opinião pública enraiveceu-se pelo crime à medida que a imprensa sensacionalista punha mais lenha na fogueira.
A infanticida abandonara a bebé na praia, entregando-a a morte certa. Kabou apresentou-se contudo na barra do tribunal com uma objetividade, uma frieza e um discernimento invulgares. Sem deixar de frisar o papel irresponsável do homem que a tinha acolhido na sua casa, um francês branco, seu amante, 30 anos mais velho, e que, de facto, era o pai da criança, a senegalesa defendeu-se com uma linguagem articulada e de forma metódica, argumentando que o crime se deveu às desesperadas circunstâncias que tinha atravessado. Perplexa pela decisão de ter entregue a própria filha à morte, clamou entre outras coisas ter sido vítima de um feitiçaria e de forças malignas lançadas por familiares.