Muitos de nós guardam ainda uma memória bem viva de “Girl”, que foi estreia de arromba para Lukas Dhont, em 2018. Uma rapariga trans, a “girl” do título, entregava-se aos maiores sacrifícios para singrar como bailarina clássica. Escondia o seu sexo de menino e, no quarto, ao olhar-se ao espelho, via um corpo que não reconhecia como seu. Os pais dela não eram ogres nem santos. Acompanhavam a situação, com cuidado, mas sem protagonismo. Nem julgavam, nem a câmara os julgava.
Este aspeto está igualmente presente em “Close”, em que o conflito vem menos do corpo que do espírito. “O que é isto que eu sinto?” Léo e Rémi não sabem responder à pergunta. Têm 13 anos e começam este filme dentro de um jogo de escondidas. São amigos inseparáveis, diria quem os visse de fora. Mas nos olhos deles percebe-se que há mais. Aquele arranque de adolescência não sabe ainda descrever-se. Quem sabe abordar isto aos 13? O desejo entre os miúdos é que não pára, entra sem pedir licença à medida que a câmara de Dhont os aconchega.