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Uma Palma de Ouro, excrementos e vómitos: é o “Triângulo da Tristeza”, de Ruben Östlund

Retrato de gente medíocre a navegar na futilidade do luxo, “Triângulo da Tristeza” — vencedor da Palma de Ouro em Cannes — é uma impostura sobre os tempos escapistas que vivemos. O novo filme de Ruben Östlund chega esta quinta-feira às salas

A atriz sul-africana Charlbi Dean no papel da modelo e influencer Yaya

O maior problema de “Triângulo da Tristeza” não é sequer o ralo escatológico que o sueco Ruben Östlund decidiu abrir à sua sexta longa-metragem. Muitos filmes, não necessariamente ‘de’ mas ‘com’ merda — perdoe-se a crueza do substantivo —, foram feitos na história do cinema e saíram incólumes do seu cheiro nauseabundo. Não, o problema grave de “Triângulo da Tristeza”, em jeito de sátira descabelada aos muito ricos, é a sua completa incapacidade de gostar do que quer que seja, o seu imenso enjoo pela Humanidade, bem patente em todas as personagens. Incapacidade essa que traz água no bico, já que o filme espera que a audiência veja o tal ralo escatológico como uma metáfora do capitalismo e do atual estado do mundo.

Essa é a mensagem óbvia deste “Triângulo...”, é a ela que se agarram os seus defensores, mas ver apenas isso não é querer ver muito pouco? Östlund foi pescar o batismo do filme ao mundo da moda e com conhecimento de causa, pois é casado com uma fotógrafa que trata por tu aqueles meios. O dito ‘triângulo triste’ é um termo da cirurgia plástica que se refere a uma zona particular do rosto entre as sobrancelhas e o nariz. No mundo da moda, muitas modelos corrigem por intervenção cirúrgica essa parte da cara em que as rugas não perdoam. E aqui perguntamo-nos: não é o filme logo desmascarado pelo seu título, nome de operação de lifting?