Houve, pelo menos, uma ou duas gerações para quem a obra do homem que morreu nesta terça-feira, 13, foi messiânica. Primeiro pela palavra, crítico de verbo iluminado nos “Cahiers du Cinéma” de capa amarela, anos 50; depois pelos filmes que fez, continuadamente, a partir de 1960, com “O Acossado” a escancarar, de uma vez por todas, as portas do cinema a uma modernidade por onde iriam entrar, de supetão, os que, de Cassavetes a Tanner, de Glauber a Bellocchio, de Scorsese a Lindsay Anderson, a Oshima ou a Paulo Rocha, queriam mudar tudo.
A influência de Jean-Luc Godard foi mundial e avassaladora, pelo conjunto dos filmes que realizou ao longo da década de 60. Depois radicalizou-se politicamente, converteu-se maoísta, renegou o cinema burguês, tornou-se militante antes de tentar a impossível conjugação dos mundos, ao fazer “Tout Va Bien”, em 1972, com duas das maiores vedetas das duas margens do Atlântico, Jane Fonda e Yves Montand. Logo a seguir é um dos primeiros cineastas a descobrir o vídeo e as infindas capacidades de manipulação da imagem que o novo suporte permitia e faz uma espécie de refundação cinematográfica com o genial - e tão pouco conhecido - “Numéro Deux” (1975).