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Cinema

Seria “Donbass” um filme premonitório? Aqui a farsa já era realidade

O filme que Sergei Loznitsa rodou na Bacia do Donets há quatro anos está a partir de quinta-feira nas salas. Não para informar, sintetizar ou explicar o inferno do presente. “Donbass” só o adensa

O filme narra, em 13 sketches, um conflito em curso desta região do sudeste da Ucrânia. Cada história é inspirada em factos ocorridos entre 2014 e 2015

A primeira sequência de “Donbass” é ficção ou é realidade? Sim, aquela sequência de abertura que começa num camarim de teatro e tudo, em que há quem trate do make-up, do penteado, e em que visitas hostis vêm reclamar não se sabe bem o quê, enquanto ao espelho se jura pela credibilidade do espetáculo porque uma representação está prestes a acontecer... E depois a câmara vem para a rua, atrás de um grupo de pessoas que se esconde como pode, até há repórteres de TV à mistura, estamos debaixo de fogo. E o fogo deixou marcas. E vítimas. Há quem diga que já não consegue viver assim, nem ficar descansado sempre que as crianças ficam no infantário.

É ficção ou é realidade? A questão é que ambos estão no mesmo patamar. É esta a força do filme. Ficção e realidade não se distinguem. Tal como não se percebe se a mulher indignada que despeja um balde de merda em cima de um político naquela assembleia de junta de freguesia (ou coisa que o valha) tem, ou não tem (em princípio deveria ter) a razão do seu lado.