A tradição remonta a 1998. Desde então que, com periodicidade irregular, o Circo Noé vem montando arraiais nos cinemas, para fustigar o público com um número invariável. A saber, aquele que combina histórias de desintegração com exercícios de sobrecarga sensorial, numa tentativa de chocar as retinas (entre as suas maiores proezas está a temerária execução do grande plano intravaginal e da ejaculação a 3D).
É um peditório para o qual nunca demos e que nos levou a entrar de pé atrás na sexta longa do cineasta, que — pasme-se — prescinde da pirotecnia audiovisual e dos diálogos adolescentes da praxe para escalpelizar o processo de erosão e apagamento de dois corpos. Eles pertencem a um casal de parisienses octogenários, composto por um historiador do cinema com problemas cardíacos e por uma psiquiatra aposentada cuja memória se encontra corroída pelo Alzheimer (Argento e Lebrun, que emprestam a “Vortex” uma vulnerabilidade comovente).