Em 2017, Kogonada chamou a nossa atenção com uma primeira longa de produção independente que se destacava pela sua sensibilidade e simplicidade. Chamava-se “Columbus”, circulava através da cidade americana com o mesmo nome e debruçava-se sobre a relação de duas personagens estagnadas (um homem e uma mulher de diferentes idades). Agora, cinco anos depois dessa auspiciosa obra de estreia, o cineasta regressa com um filme de ficção científica pastoso e bonitinho que, seguindo embora a receita formal do seu antecessor (primado dos planos fixos e dos enquadramentos frontais...), não tem unhas para tocar a guitarra que quis comprar. Mas vamos por partes.
Adaptação de um conto de Alexander Weinstein, “A Vida depois de Yang” sobressai, no início, pela deliberada indefinição das suas coordenadas de espaço e tempo, instalando-nos numa metrópole nunca referida, algures num futuro docemente distópico. De facto, apesar do carácter acolhedor dos décors domésticos (quase sempre pintados em tons quentes e banhados por uma luz suave), depressa se percebe que a ação toma lugar após uma guerra de seis décadas entre os EUA e a China.