As despedidas do ano são como os aniversários: podem ser alegres ou deprimentes. Há mesmo quem se meta em casa, debaixo dos cobertores e não queira falar com ninguém. Não é bem para esses que escrevo. Antes me interessam os que gostam de comemorar com vinho. Há algumas tradições desta noite que deixam um pouco a desejar e, falando depressa, são mais manias e superstições que outra coisa, como estar em cima de uma cadeira, engolir à pressa as passas à meia-noite, etc. Uma das boas tradições é beber o espumante na hora de saudar o ano novo, um hábito universal que faz com que se contem por centenas de milhões as garrafas que são abertas nesta noite. A bebida das bolhas é elemento indispensável, tal como dizia Churchill, nos bons e nos maus momentos. Fiquemo-nos nesse registo de tradição, ainda que o ano que ora finda não nos dê muitas razões para celebrar. Mesmo assim, escolhi um espumante da Murganheira, uma casa de referência que conseguiu impor a variedade Bruto como sendo a que melhor expressa as virtudes do espumante. De um leque muito alargado de escolhas, fiquei-me num registo de “conservadorismo progressista”: escolhi uma casa tradicional que todos conhecem (departamento conservador...) e que dá boas garantias, e optei pela casta Chardonnay (secção progressista) que, apesar de não ser casta nacional, é a variedade que em Champagne é responsável por alguns dos melhores néctares que por lá se fazem. A verdade é que, um pouco por todo o mundo, os produtores mesmo com relutância vão sempre chegando à conclusão que as melhores castas para fazer espumante são as francesas Chardonnay e Pinot Noir. Não é chato nem deixa de ser... é a vida!
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