Exclusivo

A Revista do Expresso

Análise, por Anne Applebaum. Guerra aqui e agora: como o impossível deixou de o ser para os europeus

Por toda a Europa, as pessoas estão a perceber que vivem num continente onde a guerra, no seu próprio tempo, nos seus próprios países, já não é impossível

Invasão A praça diante da câmara municipal de Kharkiv (Carcóvia), a segunda maior cidade da Ucrânia, foi destruída pelos bombardeamentos russos no início de março
SERGEY BOBOK/AFP via Getty Images

História acelerou; o impossível tornou-se possível. Mudanças que ninguém imaginava há duas semanas estão a desenrolar-se a uma velocidade incrível.

Acontece que as nações não são peças num jogo de Risco. Não têm, como alguns académicos há muito imaginaram, interesses eternos ou orientações geopolíticas permanentes, motivações fixas ou objetivos previsíveis. Nem os seres humanos reagem sempre da maneira que é suposto reagirem. Há duas semanas, ninguém, entre os analistas da guerra que se aproximava na Ucrânia, imaginou que a coragem pessoal do Presidente ucraniano e os seus emotivos apelos à soberania e à democracia poderiam alterar os cálculos dos ministros dos Negócios Estrangeiros, diretores de bancos, executivos de empresas e milhares de pessoas comuns. Poucos imaginaram que as sinistras aparências televisivas e as ordens brutais do Presidente russo poderiam alterar, em poucos dias, as perceções internacionais da Rússia.