“Não sou especialista em estatuária, mas não gosto da estátua de Camilo. Não a considero erótica ou pornográfica. Apenas pornograficamente horrenda”. Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, decidiu explicar melhor a polémica em torno da estátua “Amores de Camilo”, de Francisco Simões, num artigo de opinião assinado no “Público” esta segunda-feira com o título “Uma polémica à Porto”.
Após recuar na decisão de mandar retirar a estátua do Largo Amor de Perdição, no Porto, o autarca veio agora esclarecer que voltou atrás para não desrespeitar a deliberação tomada pelo anterior executivo municipal, liderado por Rui Rio em 2012, que determinava a localização da estátua doada. “Sendo assim, não me cabe a mim revogar tal decisão”, justificou Rui Moreira.
Ainda assim, o autarca portuense voltou a mostrar o seu desagrado com a obra. “Ao contrário da sabedoria popular, os gostos discutem-se e mudam. E, peço desculpa por o dizer assim, [mas] tenho uma legitimidade acrescida, porque presido ao município e tenho nas minhas mãos o pelouro da Cultura”, afirmou, acrescentando não ver qualquer relação entre o livro “Amor de Perdição” de Camilo Castelo Branco e a figura (“afinal o vulto feminino não é de Ana Plácido mas apenas de uma qualquer mulher”).
Rui Moreira vincou também que os 37 signatários da petição que inicialmente pediram a remoção da estátua “são pessoas de quadrantes ideológicos muito diversos”. “Ninguém se atreverá a dizer que não têm currículo, ou que são reaccionários e moralistas”, escreveu. Entre os signatários estão “os dois maiores críticos de arte da cidade do Porto”, Bernardo Pinto de Almeida e Miguel von Hafe Pérez, como já tinha dito aos jornalistas na semana passada.
Assinaram ainda o documento Artur Santos Silva, ex-banqueiro que presidiu à Porto 2001 Capital da Cultura, o escritor Mário Cláudio, os pintores Armando Alves e Carlos Reis, Francisco Mangas, presidente da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, e ainda a vereadora comunista da Câmara da cidade, Ilda Figueiredo, que entretanto se afastou do pedido de remoção da obra.