O parecer pedido pelo Governo à Procuradoria Geral da República sobre a greve dos enfermeiros teve sempre como intenção a marcação de faltas. “Desde que soubemos do pedido do parecer que não tivemos dúvidas de que a intenção era essa. É uma forma de pressão, coação, de ameaça sobre os enfermeiros, mas que não é nova”, diz Ana Rita Cavaco, bastonária da Ordem dos Enfermeiros, em entrevista ao “Jornal de Negócios” esta quinta-feira.
Segundo a bastonária, os serviços mínimos nunca estiveram em causa. “As informações que os enfermeiros diretores dos hospitais nos deram é que não havia nada a reportar à Ordem, pois é à Ordem que compete depois instaurar inquéritos disciplinares se houver violação desses serviços mínimos. Se não houve [essa informação] é porque estavam adequados”, afirma.
De momento, há um impasse inultrapassável entre Governo e enfermeiros. “Não estamos a ver os enfermeiros com intenção de parar. E isso é que nos preocupa. Quando as pessoas já não têm nada a perder tomam medidas mais drásticas, que nós não gostaríamos de ver acontecer. Quando as pessoas já não tem nada a perder avançam para outras formas de luta, essas sim, que não estão organizadas nem controladas por nenhuma entidade ou estrutura sindical, é que nos preocupam muito”, diz.
Rio é um “péssimo” líder
Se tem críticas para o Governo de António Costa, Ana Cavaco também não está impressionada com a liderança de Rui Rio no PSD. Tem sido “péssima”, diz. A bastonária, recorde-se, é militante e ex-dirigente do PSD. “Rio parece que está mais interessado em ir para o Governo com o PS do que em fazer oposição. Já disse isto uma vez e imagino que ele não goste. Não temos nenhum relacionamento e rio-me imenso quando dizem que nós combinamos a greve”, atira.
“Eu não aprecio o estilo [de Rui Rio] que é mais do mesmo. Os partidos têm de ter gente nova, que consiga romper com o que está estabelecido”, diz.
Questionada se pretende voltar à política partidária, Ana Rita Cavaco não descarta essa possibilidade mas diz que não será para já. “Agora não, que não tenho tempo. Admito um dia voltar, mas para fazer o que sempre fiz. Não contem comigo para o que é a hipocrisia crónica do sistema”, diz.