Presidenciais 2021

Marcelo na pele de pedagogo: "Isto não é uma ditadura. Não há poder político que se possa substituir às pessoas"

Marcelo insiste que "houve um erro de cálculo em relação à 2ª e à 3ª vaga", reconhece falhas nas gestão da pandemia mas não quer guerras com Costa e volta a assumir-se como "supremo responsável". Na Misericórdia da Azambuja falou do setor que chega "onde o Estado não pode chegar". À rádio local disse que o voto antecipado mostra "que as pessoas estão atentas".

TIAGO MIRANDA

Marcelo Rebelo de Sousa arrancou para a última semana de campanha no papel de pedagogo, apostado em deitar água na fervura. Calmo, lento e professoral, o candidato reconhece falhas, aponta erros, revela factos, mas encontra uma explicação para tudo. Mesmo para o que falhou na gestão da pandemia: "Isto não é uma ditadura, não há poder político que se possa substituir às pessoas".

"Os meus netos, que viveram na China, aí sim há regras para cumprir mesmo", afirmou Marcelo. Mas, por cá, "isto é uma democracia", "as pessoas estão estafadas, cansadas" e "ao fim de 11 meses já perceberam tudo", já sabem o que têm que fazer. Mesmo assim, o Presidente/candidato assume o comando da pedagogia que tem vindo a fazer coordenado com o Governo e apela ao cumprimento das regras - "as pessoas que podem, porque não estão a trabalhar, devem confinar".

Ali, na Azambuja, onde o candidato foi esta segunda-feira em campanha, explica que as fábricas estão abertas, porque a economia não fechou como em março, porque as fronteiras não fecharam, porque as exportações e importações continuam. "E sabia-se que este confinamento ia ser muito diferente do de março" e que "a eficácia das medidas depende muito de quem as aplica".

Com o Governo reunido para rever as medidas que decidiu há menos de uma semana e que não estão a conseguir travar a situação catastrófica em alguns hospitais públicos, Marcelo diz que o primeiro-ministro já lhe telefonou mas que "o debate dentro do Governo ainda está em curso" e que "o Governo vai tentando encontrar medidas que sejam exequíveis".

Quando lhe perguntam se as escolas devem fechar, o candidato faz que não ouve e não responde. "As medidas ainda estão a ser ajustadas", o Governo anunciará, ele vai reconhecendo falhas e assumindo responsabilidades.

Após visitar a Misericórdia, Marcelo Rebelo de Sousa foi a uma rádio local dar uma entrevista e mostrou-se otimista com o que viu no domingo no dia do voto antecipado que mobilizou 250 mil pessoas. "Mostra que as pessoas estão atentas".

E estão. Na rua, dois cidadãos da Azambuja protestaram em voz alta - "Então não é proibido ajuntamentos com mais de cinco pessoas? Esta porcaria até mete raiva".

Marcelo não anda para se irritar com nada. "Se ando na rua é porque ando na rua, se ficar em Belém é porque ando a fugir da campanha". Dias difíceis.