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MNE: "O sinal que deve ser dado à administração norte-americana é que a nossa vontade é chegar a um acordo"

Ministro dos Negócios Estrangeiros lamenta decisão de Trump ao "arrepio" do rumo das negociações em curso e reforça que Portugal está alinhado com a Comissão Europeia, não excluindo retaliação contra tarifas impostas pelos EUA

PAULO NOVAIS

O ministro dos Negócios Estrangeiros considerou este sábado que o anúncio de Donald Trump avançar com tarifas de 30% sobre importações europeias a partir de 1 de agosto vem ao "arrepio" do que tinham sido as negociações até aqui. Porém, reitera que é "fundamental" que o processo negocial continue até a data limite, aguardando "que possa ter um desenlace positivo para ambos os lados do Atlântico".

"Nenhuma opção está excluída" incluindo "uma reação no sentido de reforçar os direitos aduaneiros recíprocos" face a uma "escalada" como a agora anunciada, acrescentou Paulo Rangel, em declarações à RTP e Antena 1 à margem de uma visita oficial a São Tomé e Príncipe. Para já, o ministro considera "prematuro" falar de um plano protecionista ou de incentivo aos empresários nacionais. "O sinal que deve ser dado à administração norte-americana é que a nossa vontade é chegar a um acordo".

Questionado sobre as repercussões de uma decisão destas para a economia portuguesa, Paulo Rangel afirmou que tarifas de 30% teriam um "efeito disruptivo" e "muito negativo" para os dois lados do Atlântico. "Uma decisão destas tem sempre um impacto que não é fácil de antecipar" e este valor "não estava em cima da mesa", acrescentou. Como tal, terá de ser analisado, até por o impacto dependerá dos vários setores e poderá ser "assimétrico" entre estados-membros da UE.

"A negociação das relações comerciais da União Europeia com estados terceiros é da exclusiva competência da Comissão Europeia" e o Governo está em "contacto estreitíssimo" com a Comissão Europeia, sublinhou o ministro. O comunicado da presidente da Comissão Europeia "reflecte na íntegra as linhas de posicionamento que o Governo português transmitiu às entidades europeias", acrescentou. "Ou seja, consideramos que é um desenvolvimento negativo, mas as negociações estão em curso e a UE é defensora do comércio livre e de uma relação muito aberta e franqueada com os EUA", explicitou.

Ao lado de Paulo Rangel esteve o Presidente da República, que admitiu que o anúncio foi "surpreendente na medida em que estava em curso um processo negocial que estava a correr bem" entre os EUA e União Europeia. Porém, considerou que "esta história não terminou" e que serão mantidas negociações para "encontrar uma solução do interesse de todos que corresponda à lógica do que estava a ser negociado".

O Presidente da República lembrou que a posição de Portugal está alinhada com a da União Europeia e louvou a "posição muito serena" da Comissão Europeia. "Não é bom para o comércio e economia internacional haver deste tipo de anúncios nas condições em que foi feito", declarou.