Está desfeita a espera: Maria Luís Albuquerque é o nome indicado pelo Governo português para comissária europeia. O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro numa declaração esta manhã de quarta-feira na residência oficial.
Assim, Luís Montenegro cumpre a apresentação do nome fora do contexto da rentrée do PSD, que decorre por esta altura em Castelo de Vide, e afasta as críticas de misturar temas partidários com os do Governo de Portugal. No entanto, depois deste anúncio, é esperada a presença e a declaração pública da própria Maria Luís Albuquerque este sábado, na Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide.
Sem dar direito a perguntas dos jornalistas, Montenegro justificou a escolha com o “reconhecido mérito profissional, político e cívico” da anterior ministra de Estado e das Finanças do Governo PSD/CDS de há dez anos. Maria Luís Albuquerque foi, antes disso, secretária de Estado do Tesouro, tendo também passado pela Assembleia da República como deputada. “É detentora de qualidades e competências extraordinárias, que vão enriquecer a Comissão Europeia e prestigiar Portugal”, afirmou Montenegro.
Embora tenha sido negociado com “discrição” e “recato”, o anúncio é só uma meia surpresa, já que o nome da ex-ministra corria há muito nos bastidores como um dos mais bem colocados para assumir o lugar, até por se tratar de uma mulher, o que responde ao pedido da presidente da Comissão, Ursula Von der Leyen, de tentar construir um executivo paritário - ainda mais importante numa altura em que a maioria dos países já indicou homens.
Cumprindo esse desejo de Von der Leyen, teoricamente Montenegro ganha margem para negociar uma pasta importante para a comissária portuguesa (a presidente só anuncia a distribuição de pastas a meio de setembro). E essa é agora a nova grande dúvida: o facto de António Costa ter sido nomeado presidente do Conselho Europeu diminui a hipótese de Portugal ter uma pasta relevante? Ou o perfil económico e financeiro de Maria Luís Albuquerque abre espaço para um ‘ministério’ nessas áreas, habitualmente mais disputadas?
Por outro lado, internamente, Maria Luís Albuquerque é uma figura ainda colada ao Governo de Passos Coelho e do PSD durante o período da troika, um momento de que Montenegro tem feito os possíveis para se afastar - e é aí que está a meia surpresa deste anúncio.
A ligação entre Albuquerque e o passismo era vista como um ponto contra a ex-ministra, até porque, mesmo sabendo que se trata de um cargo europeu, estende a passadeira para as críticas da oposição. Montenegro, aliás, já prepara o terreno para isso, respondendo com a “vasta e interessante experiência” de Maria Luís Albuquerque não só em Portugal como “junto das instituições europeias e dos seus protagonistas”.
Portugal fez parte do grupo de países que esperou quase até ao fim para anunciar a proposta de comissário, mas o nome está a ser negociado nos bastidores pelo menos desde junho, aquando das eleições europeias.
Para Montenegro, vem aí um “novo ciclo na União Europeia”, com “desafios enormes na segurança e defesa, com os novos horizontes no alargamento”, que exigem que “cada Estado-membro disponibilize alguns dos seus melhores”. E para o chefe de Governo português, “a dra Maria Luís Albuquerque honra esse perfil”. “Pelo conhecimento direto e pessoal que tenho das suas capacidades, sei que vai honrar Portugal”, disse ainda o primeiro-ministro.
Maria Luís Albuquerque chega assim a comissária europeia dez anos depois de ter sido escolhida por um outro primeiro-ministro para o mesmo lugar. Em 2014, Pedro Passos Coelho queria a ministra das Finanças em Bruxelas, mas recuou à conta da crise no BES. Carlos Moedas veio depois, como o próprio Passos Coelho fez questão de lembrar na apresentação de um livro do hoje presidente da Câmara de Lisboa.