O seu dever enquanto primeiro-ministro é garantir os meios necessários à investigação judicial, quanto ao resto não se deve pronunciar - este é o entendimento geral de António Costa que foi reafirmado esta noite, em entrevista à TVI/CNN. E que, aplicado à Operação Tempestade Perfeita e ao ministro João Gomes Cravinho, fazem com que o primeiro-ministro não tenha assumido uma defesa veemente do atual ministro dos Negócios Estrangeiros.
“Vivemos num país onde ninguém está acima da lei e, se houver indícios sobre João Cravinho ou sobre mim, não é por eu ser primeiro-ministro ou ele ser ministro que vai deixar de atuar. Não me vou antecipar à justiça", respondeu António Costa, questionado sobre o envolvimento de Gomes Cravinho no caso que envolve antigos altos quadros do Ministério da Defesa.
Costa lembrou que há um “principio fundamental que é preciso preservar que é presunção de inocência” e deixou mesmo um desafio: “Se o Ministério Público tem alguma coisa a apontar ao ministro João Cravinho, aja!”
O primeiro-ministro começou por dizer que garantiu o “maior reforço em recursos humanos e capacidade tecnológica” para que a Polícia Judiciária possa focar-se na investigação e combate à corrupção. “A minha regra de sempre é disponibilizar os meios para que a justiça atue e respeitar a justiça”, continuou António Costa. E acrescentou: “A Polícia Judiciária tem liberdade para investigar, nós devemos ter a serenidade para deixar investigar e não nos inquietar com fugas seletivas.”
Sem nunca dizer claramente se vai manter Cravinho no Governo, o primeiro-ministro voltou a lembrar que, para si, o facto de um membro do Governo ser arguido não é razão para o remodelar. “O estatuto de arguido foi criado para proteção de quem está a ser investigado”, recordou. E o ministro não é sequer arguido neste caso. “Não vou tomar decisões com base em escutas que ninguém devia conhecer”, disse ainda Costa, reafirmando, com outra fórmula a sua habitual frase de “à justiça o que é da justiça e à política o que é da política”: “Não me meto na justiça e tenho a certeza que a justiça não se guia por critérios políticos.”