Alguns deputados do PS, incluindo o presidente da comissão de inquérito à TAP, não gostaram do que ouviram, mas Pedro Adão e Silva não mudou uma vírgula. Até acrescentou. Em entrevista à RTP esta quarta-feira à noite, o ministro da Cultura criticou a “subordinação da lógica política à lógica mediática” que diz ter ficado visível nas inquirições da CPI da TAP, associando essa forma de fazer “política espetáculo” ao modus operandi do populismo que tem proliferado em Portugal e “um pouco por todas as democracias ocidentais”.
No entender do ministro da Cultura, que tem assento no núcleo duro de coordenação política do Governo, tem-se assistido nos últimos tempos - com a CPI da TAP a ser o pináculo dessa tendência - a uma “política de indignação permanente, com sensacionalismo, que é acompanhada de loops noticiosos de 24 horas” que não beneficiam ninguém.
“O que se passa no Parlamento parece estar a decorrer para ser visto nas televisões e ser comentado num ciclo de 24 horas, e isso leva a uma tendência de judicialização do Parlamento que não vejo que seja benéfica”, disse no programa Grande Entrevista, acrescentando que “ninguém ganha com a política espetáculo”.
Questionado sobre episódios concretos da CPI da TAP que se tenham enquadrado naquilo que começou por descrever, em entrevista à TSF e JN, como “procuradores de cinema americano de série B”, Adão e Silva não quis detalhar a quem se referia, mas deixou claro que não era nem aos deputados da maioria socialista nem aos comunistas - esses, “ao contrário dos restantes, usaram a comissão de inquérito para colocar questões sobre a TAP, sobre a governação da TAP e sobre a estratégia para a TAP”.
“Toda a gente percebeu do que eu estava a falar”, disse, afirmando ainda que “muitos portugueses estavam à espera que alguém dissesse o que pensam”. A título de exemplo, Pedro Adão e Silva questionou o tempo das inquirições, que em alguns casos se prolongaram noite fora, e algumas perguntas feitas pelos deputados da oposição durante os depoimentos de João Galamba e Frederico Pinheiro. “Está a trocar SMS com quem?” foi uma das perguntas destacadas por Pedro Adão e Silva como exemplo daquilo que extravasa o propósito da comissão de inquérito, bem como a apreensão do telemóvel do ex-adjunto de João Galamba feita em plena comissão parlamentar. “Isto não se vê nos tribunais, não faz sentido” ver-se no Parlamento, disse.
“Ponderação” e “humildade retrospectiva” aos comentadores
“As comissões de inquérito são proveitosas quando se quer apurar factos e a verdade, mas o que senti foi que estavam a querer alimentar o espetáculo mediático”, acrescentou.
Para Pedro Adão e Silva, ministro da Cultura desde janeiro, tendo sido, antes disso, comentador político, os ministros não devem ser “diretores-gerais da sua área de governação” e devem poder dizer o que pensam: “São responsáveis políticos e devem ter intervenções políticas”. É nesse sentido que o agora ministro lembra os erros dos prognósticos feitos pelos comentadores quando, há um ano, anteviam que o PS ia perder as eleições e depois teve maioria absoluta.
“É preciso humildade retrospetiva sobre o exercício do comentário”, aconselhou, afirmando que “é fundamental que haja ponderação no que se diz”.
O foco, segundo o ministro, devem ser as diferenças programáticas entre os vários partidos e não a “política espetáculo” característica de sistemas onde o populismo predomina. “Estamos a entrar numa estrada que me preocupa - vai tudo no mesmo sentido a dizer a mesma coisa e depois vai tudo no dia seguinte dizer as mesmas coisas mas em sentido contrário”, disse
Questionado sobre os motivos para o PS estar em queda nas intenções de voto, depois de ter conseguido uma maioria absoluta, Adão e Silva apontou uma causa essencial: “a causa mais profunda chama-se inflação e custo de vida”, disse. Para o ministro, os casos que levaram à demissão de 13 membros do Governo no último ano também não devem ser menorizados, mas o essencial, no seu entender, é mesmo o aumento do custo de vida. “O resto não menorizo nada, mas tem de ser lido à luz do contexto de inflação elevada”, afirma o ex-militante socialista, que hesita em responder se equaciona voltar a pedir o cartão de militante: “Nunca digo nunca”.