Governo

Costa enfrenta protesto de professores no Dia de Portugal: é "injusto", mas "faz parte da democracia"

Primeiro-ministro tentou dar explicações aos professores, mas acabou por se exaltar e lamentar os “cartazes racistas” que o seguiram pelo Peso da Régua

Rui Duarte Silva

“O protesto dos professores faz parte da liberdade e da democracia, só os senhores jornalistas é que acham estranho que haja protestos. Faz parte da democracia”, afirmou António Costa, enquanto tentava manter um diálogo com uma docente, depois da cerimónia militar do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

O primeiro-ministro foi abordado por professores logo à saída da cerimónia, aos quais tenta explicar as medidas do Governo. “Tivemos em conta que o congelamento não teve o mesmo impacto” em todos os professores", tentou explicar o primeiro-ministro, falando da aceleração da progressão que o Governo já aprovou. Em discussão com uma professora, tentou também explicar “o mecanismo da vinculação dinâmica”.

Costa, acompanhado pela mulher que foi professora e chegou a participar em manifestações no tempo do Governo Sócrates, argumenta com os professores, acusando-os de serem “injustos” nos seus protestos.

Apesar os protestos dos professores, o primeiro-ministro é aplaudido e saudado por outros populares que também o chamam para tirar fotografias. No caminho para o local do almoço é como que “perseguido” pela manifestação de professores, com um grupo a seguir atrás de si, enquanto que populares que estão nas ruas vão gritando “Costa! Costa!”

Os manifestantes levavam cartazes a pedir “demissão” e com a imagem do primeiro-ministro com dois lápis nos olhos e um nariz de porco. À chegada ao local do restaurante, a mulher do primeiro-ministro, Fernanda Tadeu, exaltou-se com alguns dos comentários dos professores em protesto. Inicialmente, António Costa pediu à mulher para não responder aos comentários, mas, depois, virou-se para trás e gritou “racista”, visivelmente exaltado.

Vaiado pelos professores, o primeiro-ministro foi, no entanto, acarinhado por muitos populares que lhe disseram: “bem-vindo ao Douro”, “estamos aqui para apoiá-lo” e a “Régua está consigo”. “Eu sinto-me muito bem no Douro e em todo o país”, apontou, voltando a insistir que o barulho de fundo que o acompanhou “é um direito de manifestação”. “Com melhor gosto, com pior gosto, com estes cartazes um pouco racistas, mas pronto, é a vida”, frisou.

Na conversa que manteve com uma docente, António Costa disse que os professores “são muito injustos”. “São muito injustos e são injustos porque estão a protestar contra um Governo que pôs fim ao congelamento da carreira”, afirmou, tendo sido interrompido pela professora a quem disse: “posso falar eu? Também quero respeito”.

“Portanto nós descongelamos, mantemos a carreira descongelada e garantimos que a carreira continuará descongelada. A recuperação do tempo que foi feita foi exatamente na mesma medida que foi para as restantes carreiras, referente 70% do tempo congelado”, afirmou.

Neste diálogo, António Costa foi sendo constantemente interrompido e pedindo para o deixarem falar, tentando apontar várias medidas tomadas pelo Governo relativamente à classe.

Antes ainda, com uma outra docente proveniente da Póvoa de Lanhoso, o chefe do Governo falou durante mais de 12 minutos, ouvindo as suas queixas e referindo-lhe que foi o Governo “que abriu o diálogo” e que os interlocutores são os sindicatos. António Costa ficou, inclusive, com o contacto telefónico desta professora para combinarem uma conversa sobre as “questões pedagógicas” que também preocupam os docentes.

Rui Duarte Silva

Enquanto o primeiro-ministro enfrentava os protestos, o Presidente da República continuava a cumprimentar populares que assistiram às cerimónias. Com um bebé ao colo, disse que foram “celebrações excecionais” e questionado sobre os protestos, respondeu: “Quais protestos? Os portugueses são tão calorosos.” E aproveitou para marcar a diferença com o primeiro-ministro: “No que me toca, gosto de todos eles.”