Os resultados das eleições de 10 de março – que acabam de ser contabilizados esta quinta-feira – foram o ponto de partida para o Bloco de Esquerda pedir reuniões aos restantes partidos de esquerda e ecologistas. Com uma reconfiguração do Parlamento que dá a vitória à AD e pode subir o número de deputados do Chega para a meia centena, os bloquistas quiseram garantir que o resto das bancadas estão unidas para uma frente de oposição que garanta que não há “recuos” nos direitos sociais. Esta foi a preocupação principal levada por Mariana Mortágua a Inês Sousa Real na primeira reunião à esquerda, esta quarta-feira, dia 20.
Apesar das divergências entre os dois partidos, a líder bloquista garantiu que haverá coordenação em “matérias concretas” dentro e fora do Parlamento. “Temos um acordo para que se mantenha a partir deste dia uma porta aberta para um diálogo entre os dois partidos quer na Assembleia da República, quer fora”. As reuniões com o Livre e o PCP também já estão marcadas para sexta-feira, dia 22, e segunda-feira, dia 25, respetivamente.
Esta “convergência”, explicou a líder bloquista, irá manifestar-se através de alianças em atividades partidárias, nomeadamente na organização da manifestação do 25 de abril que assinala os 50 anos da revolução, mas também em ações parlamentares que poderão traduzir-se em iniciativas conjuntas ou até alinhamentos de sentidos de voto. “Há abertura do Bloco para, em matérias importantes e concretas, possa haver iniciativas conjuntas e coordenação da atividade no Parlamento”, confirmou Mariana Mortágua após a reunião “histórica” com a deputada única do PAN que durou cerca de uma hora.
A manutenção dos “direitos sociais” parece ser o maior ponto de união entre os dois partidos. Mariana Mortágua lembrou que o Bloco e o PAN votaram ao lado um do outro em matérias como a despenalização da morte assistida, da interrupção voluntária da gravidez (IVG), de questões climáticas e de bem-estar animal. “Esta convergência serve para mostrar que entre estes dois partidos valoriza-se a capacidade de convergência, de resposta e de oposição à direita”, declarou acusando indiretamente o Governo de Luís Montenegro e a nova geometria parlamentar de colocarem em risco estes direitos.
Por outro lado, a coordenadora do Bloco garantiu que esta “convergência” à esquerda não tem como objetivo “fundir todos os partidos num só”. “Cada partido tem a sua agenda e identidade, mas há a responsabilidade para a coordenação e convergência na oposição para garantir que não há recuos nos direitos sociais”, repetiu.