A subida da extrema-direita é um dos dados mais significativos que se tiram da noite eleitoral de domingo em Portugal: um acréscimo de mais de 700 mil votos faz quadruplicar a bancada parlamentar do Chega e lança avisos ao bipartidarismo. É a primeira vez em quase 40 anos que as duas maiores forças políticas ficam abaixo dos 30% de votos. A última foi em 1985, quando o Partido Renovador Democrático (PRD, de Ramalho Eanes) se intrometeu no duopólio PS-PSD.
A ascensão desta franja política no nosso país segue uma tendência continental que não é de agora e que promete continuar. “As eleições europeias de 2024 serão marcadas por uma forte viragem à direita em muitos países, com partidos da direita populista radical a ganhar votos e lugares em toda a União Europeia, e os partidos de centro-esquerda e verdes a perder votos e lugares”, escrevia, em janeiro passado, o think tank European Council on Foreign Relations.
Vale a pena olhar para outros Estados-membros da UE para perceber como subiram por lá os correligionários de André Ventura. Nalguns casos estão mais institucionalizados e fazem parte de soluções de Governo, o que, a crer em Luís Montenegro — chefe da Aliança Democrática, vencedora das legislativas lusas e probabilíssimo próximo primeiro-ministro —, não será o caso entre nós. Resta saber até quando e como a direita democrática poderá governar em minoria.