Legislativas 2024

Tavares contra o voto útil: "Não se muda nada votando nos dois partidos que não querem mudar nada"

Porta-voz do Livre insiste na criação de um círculo nacional de compensação que também é defendido por liberais e pelo PAN

MIGUEL A. LOPES/Lusa

O porta-voz do Livre defendeu esta terça-feira que "não se muda nada votando nos dois partidos que não querem mudar nada", referindo-se a PS e PSD, numa iniciativa na qual também acusou o presidente do Chega de "descaramento". Rui Tavares falava aos jornalistas a uns metros da embaixada da Rússia, em Lisboa, a propósito de uma ação de campanha para as legislativas do dia 10, na qual foi interrogado sobre como convencer eleitores de círculos do interior a votar no seu partido.

"Não se muda nada votando nos dois partidos que não querem mudar nada. Porque PS e PSD não querem constituir um círculo de compensação nacional", argumentou, numa altura em que os apelos ao voto útil se multiplicam.

Na ótica de Rui Tavares, que foi acompanhado por uma comitiva de cerca de 40 dirigentes e apoiantes, PS e PSD "têm que ver cada vez mais gente em Portalegre, em Bragança, a dizer que não querem mais viver num sistema diferente dos concidadãos do litoral", apontando que na Região Autónoma dos Açores já existe um círculo nacional de compensação.

"PS e PSD acham que esse sistema é bom nos Açores e então porque não é na República como um todo? Até porque se a chantagem do voto útil no interior funcionar, significa que vai ficar tudo na mesma e o voto no Livre é o voto na esquerda que não deixa tudo na mesma", sublinhou.

O deputado único foi ainda questionado sobre uma publicação na rede social 'X' (antigo Twitter) citada pelo presidente do Chega, André Ventura, na segunda-feira, da autoria de um membro do Livre que brincava com a possibilidade de anulação de votos. Esta publicação foi utilizada por Ventura para sustentar a sua teoria da possibilidade de os resultados eleitorais serem desvirtuados.

Tavares trouxe consigo um papel com a publicação em causa para ilustrar que o próprio autor à data, no dia 1 de março, escreveu mais abaixo que se tratava de uma piada, e frisou que o membro não está escalado nem nunca esteve para as contagens nas mesas de voto. O historiador argumentou que André Ventura "nunca se responsabilizou por coisas ditas, muito mais graves do que estas", nomeadamente por dirigentes e deputados, ou até "por gente no congresso que afirmou que era fascista e depois vieram dizer que era ironia, quando aparentemente ninguém se riu".

"E agora com que lata, com que descaramento, vem um farsista acusar outros de estar a pôr em causa o resultado eleitoral quando é a única coisa que ele está a fazer desde o início? E está a fazê-lo segundo uma cartilha que não é original", acusou. O deputado único do Livre insistiu na ideia de que o discurso da extrema-direita "tem consequências reais" e apelou aos eleitores para que "rejeitem a política da mentira e do ódio".

Um apoio em mirandês

Na sua única ação de campanha do dia, o porta-voz do Livre Rui Tavares foi até à embaixada da Rússia para pedir a libertação do opositor russo e historiador Vladimir Kara-Murza, numa ação de campanha na qual recebeu um apoio sentido de um jovem mirandês.

O ponto de partida foi o jardim do Arco do Cego, em Lisboa, junto ao Instituto Superior Técnico, sítio onde a comitiva do Livre, composta por cerca de quarenta membros e apoiantes, se reuniu esta tarde para uma ação de campanha no âmbito das legislativas. A comitiva fez um percurso a pé entre as freguesias das Avenidas Novas e Arroios, esta última onde o Livre teve os melhores resultados nas legislativas de 2022.

Logo no início do percurso, o deputado e candidato foi abordado por um homem que lhe disse: "Concordo com 99% daquilo que o senhor diz. Boa sorte", com Tavares a agradecer.

A comitiva tentou chegar o mais perto possível da embaixada da Federação Russa, mas um agente da PSP indicou que as declarações de Rui Tavares aos jornalistas teriam que ser feitas um pouco mais à frente, ao lado do local onde está um memorial que recorda o opositor russo Alexei Navalny, que morreu no dia 16 de fevereiro numa prisão russa.

Foi aí que Rui Tavares pediu a libertação do opositor "mais corajoso à ditadura de Vladimir Putin e ao seu imperialismo que ameaça toda a Europa", o seu 'colega' historiador, Vladimir Kara-Murza.

"O Livre quer colocar esta luta no centro do debate político em Portugal. Ainda ontem a assembleia parlamentar do Conselho da Europa apelou a que todos os estados europeus envidassem esforços no sentido de salvar Kara-Murza", apontou.

O deputado anunciou a intenção de apresentar, na próxima sessão legislativa, "um projeto de resolução para que Portugal faça parte desse movimento de estados europeus, que pode passar, como sugeria o Conselho da Europa, por uma troca de prisioneiros de forma a garantir que Kara-Murza saia em segurança das masmorras de Putin".

Feitos os apelos à libertação do opositor russo, Tavares e a sua comitiva, que incluía a 'número dois' pela capital, Isabel Mendes Lopes, e a terceira na lista, Patrícia Robalo, seguiram caminho pelas imediações do Instituto Superior Técnico, onde se cruzaram com vários jovens que demonstraram apoio ao Livre.

Muitos pediram 'selfies' com Rui Tavares mas o encontro mais sentido foi com o jovem João, natural de Sendim, freguesia de Miranda do Douro, que interpelou o deputado, com algumas dificuldades na fala, para lhe dizer que a sua avó "nunca falou português" e agradecer-lhe pela importância que o partido dá à proteção do mirandês como "língua viva".

"O meu voto está garantido", disse João a Tavares, antes de lhe dar um forte abraço, trocar algumas palavras em mirandês com o deputado, e perguntar se podia juntar-se à comitiva.

Antes, também o jovem Guilherme Pinto, 18 anos, confessou estar a pensar votar no Livre, mas como é natural de Viseu, mostrou receio que o seu voto possa não contar para eleger um deputado pelo partido.

"Acho que o Rui Tavares tem ideias boas para o país e irmos no caminho certo, no futuro certo para os jovens. Espero que o futuro passe também por uma solução em que o Livre seja incluído", afirmou.

Vicente, que vai votar pela primeira vez no domingo, viu a comitiva "pela janela" do Técnico e desceu para tirar uma fotografia com o historiador, e Mariana Fernandes, acompanhada da cadela 'Mimi', já decidiu que vai votar no Livre e confessou que as intervenções do deputado único no parlamento lhe chamaram a atenção.