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Defesa

Novo chefe da Armada: o operacional que afundava Gouveia e Melo

Jorge Nobre de Sousa foi o nome escolhido para Chefe de Estado Maior da Armada (CEMA). Marcelo Rebelo de Sousa dá-lhe posse esta sexta-feira

D.R.

“Feroz perseguidor de submarinos”, como ironiza um amigo, Jorge Nobre de Sousa, sucessor de Henrique Gouveia e Melo no comando da Marinha, é um especialista na luta antissubmarina que, em exercícios navais, “afundou” várias vezes o homem que substitui esta sexta-feira como chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), e que do fundo do mar também lhe terá torpedeado algumas vezes fragata.

O nome de Nobre de Sousa seria dos poucos - de entre os sete vice-almirantes da Armada - que Marcelo Rebelo de Sousa estaria disposto a aceitar, e que lhe dava garantias de autonomia e independência para comandar o ramo, como o Expresso escreveu na última edição. O novo almirante empossado pelo Presidente da República é descrito ao Expresso como “um dos últimos operacionais da Marinha”, e tem essa característica em comum com Gouveia e Melo, que deverá anunciar a intenção de se candidatar a Presidente da República nos próximos meses. Nobre de Sousa esteve quase sempre nos navios de superfície, comandou a fragata “Álvares Cabral”, liderou os fuzileiros, foi comandante naval e era agora chefe do Estado-Maior do Comando Conjunto para as Operações Militares, do Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA).

“É altamente profissional e não tenho qualquer dúvida sobre a sua competência”, diz ao Expresso o tenente-general do Exército Marco Serronha, que já está fora do ativo, e de quem Nobre de Sousa foi número dois no EMGFA, sucedendo-lhe mais tarde no comando do mesmo Estado-Maior Conjunto. Apesar de ser um “fragateiro” - um homem dos navios de superfície na gíria da Marinha -, o general não crê que venha a existir uma rutura com o trabalho de transformação desenvolvido na perspetiva do submarinista Gouveia e Melo, como a aposta nos drones e na robotização dos meios. De resto, CEMGFA, general Nunes da Fonseca, que deu parecer favorável ao nome (dos três que o Conselho do Almirantado propôs), será um apreciador do trabalho de Nobre de Sousa desenvolvido debaixo do seu chapéu.

Todas as fontes contactadas pelo Expresso descrevem Nobre de Sousa como um homem frontal, e “uma pessoa muito direta no seu pensamento e ação”, como diz o almirante Melo Gomes, ex-CEMA que o comandou nas fragatas: “Foi o primeiro do curso dele e pensa pela sua própria cabeça”, garante o antigo chefe, que antevê uma continuidade do projeto em curso, mas também com “uma maior atenção ao pessoal”, dada a sua experiência operacional e convívio direto com as guarnições. “É capaz de dar um murro na mesa” ao poder político, diz outra fonte.

“Foi uma excelente escolha. Em termos de diálogo com o poder político acho que será capaz de afirmar as suas convicções, é uma personalidade forte”, diz o vice-almirante na reforma José Alfredo Montenegro que comandou Nobre de Sousa na fragata “Côrte-Real”, de quem foi chefe de operações, e que mais tarde o teve como chefe de estado-maior como comandante naval. “Era reconhecido internamente e externamente em exercícios da NATO, como oficial das operações, como muito capaz e competente na área operacional”, afirma.

Na cerimónia de posse do novo CEMA, que decorre esta sexta-feira no Palácio de Belém, Marcelo Rebelo de Sousa condecorará Gouveia e Melo com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo. Resta saber se a cerimónia será tão breve quanto a de há três anos.