Com a discussão orçamental à porta, o regresso dos debates quinzenais com o primeiro-ministro não podia deixar de incluir uma discussão sobre as medidas apresentadas por Fernando Medina. Admitindo que o Governo “copiou, ainda que mal, a proposta do PSD” de recução do IRS, o principal partido da oposição virou-se para o aumento dos impostos indiretos e foi o bastante para António Costa concluir que a direita fica “perdida” e “perplexa”, sem discurso, perante um PS que deita por terra todos os mantras que foram sendo colados pela direita ao socialismo: o “diabo” que vinha e não veio, o “despesismo”, e o suposto medo dos mercados e da procura externa.
Joaquim Miranda Sarmento acusou o executivo socialista de “copiar mal” a proposta do PSD e diminuir impostos de um lado à custa de aumentos do outro. “O Governo dá o poucochinho com uma mão e tira muito mais com a outra mão”, acusou o líder parlamentar do PSD no arranque do debate. Além disso, o principal partido da oposição aproveitou o debate para voltar a pressionar o Governo a baixar o IRS já este ano. De discurso preparado, António Costa afinou a voz para confrontar o PSD com a redução fiscal no IRS. É o cenário de contas públicas equilibradas juntamente com a redução dos impostos que causa “grande irritação” no PSD, disse. E acrescentou: “todas as propostas do PSD são sempre piores do que as que o Governo”.
Na primeira grande intervenção de António Costa, o primeiro-ministro desdobrou-se em críticas ao PSD, acusando o principal partido da oposição de protagonizar uma “falência sucessiva” das “linhas de demarcação” para com o PS. A primeira prende-se com a ideia do PS não ser um “bom gestor das contas públicas”. “A nossa política orçamental tem funcionado bem, o país tem crescido mais, temos máximo de emprego, os rendimentos têm aumentado, Portugal tem convergido com a UE como não convergia desde início do século e, tragédia para a direita, temos tido as contas públicas cada vez mais equilibradas, com um saldo positivo este ano e previsto para o próximo, com redução sustentada da dívida”, argumentou.
Também na “atração de investimento estrangeiro”, António Costa lembrou que “até junho” o país conseguiu “mais de metade do investimento empresarial” que teve no ano passado. Por último, António Costa refutou ainda a ideia de “esmifrar os portugueses com impostos”. “Reforçámos o investimento no SNS e na educação, e por muito que custe à direita, não foi feito à custa do aumento dos impostos. Mas sim ao mesmo tempo que se fez uma redução dos impostos, em particular o IRS”.
É perante este cenário pintado a cor-de-rosa que António Costa acredita ter encurralado o PSD. “Eles [direita] são contra porque são contra. Porque nada de positivo têm a propor aos portugueses. E essa é a razão por que não sabem se somos luso-comunistas, se temos três mãos ou se somos pipis e betinhos”, atirou numa referência às declarações de Luís Montenegro sobre o OE. Antes, já Eurico Brilhante Dias tinha acusado o PSD de chegar ao debate orçamental sem a usual companhia do “diabo” e apresentar o voto contra não pelas políticas, mas por serem “contra o Governo”.