António Costa ainda não consegue correr oito quilómetros de seguida, mas prepara-se para a maratona de audições e de preparação da próxima legislatura. Recuperado da Covid19, que não lhe deu sintomas graves, o primeiro-ministro diz não ter pressa na formação do novo Governo. “Não farei convites antes da proximidade antes de 23”, disse, referindo-se à data marcada por Marcelo para dar posse ao Governo. E desdramatiza a “chamada de atenção para todos” do Presidente da República sobre o Plano de Recuperação e Resiliência.
O primeiro-ministro falou esta quarta-feira pela primeira vez desde a noite eleitoral, em declarações aos jornalistas, antes de começar as audições com entidades oficiais, grupos da sociedade civil e partidos políticos com representação parlamentar. Questionado sobre as palavras do Presidente da República sobre o Plano de Recuperação e Resiliência, o primeiro-ministro disse que não viu as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa “como recado ou aviso, mas sim como chamando a atenção ao conjunto do país para o PRR”. “O essencial do PRR não é executado pela administração central”, é “um esforço coletivo” para que esta seja a “legislatura da execução plena do PRR”.
No jardim da residência oficial, admitiu integrar algumas sugestões de outras forças políticas e da sociedade civil, com excepção do Chega, com quem só falará quando obrigado “institucionalmente”. “Vamos continuar a dialogar”, garantiu, e essa é a justificação para as audições desta semana com os setores que identificou como prioritários “É possível que haja lacunas a ter em conta” e por isso admitiu “integrar algumas sugestões de outras forças”. Por exemplo, é possível “por ventura estabelecer melhor a forma de executar cada uma das medidas”.
Sugestões essas que se ficarão mais pela parte inicial do processo, ou seja, pela arquitetura do Governo – que ainda não está definida, garantiu – e também pelo programa do Governo – que está “em condições” de ser apresentado na semana a seguir à tomada de posse. O Orçamento do Estado para este ano e as Grandes Opções do plano serão o passo seguinte e sobre essas conversas, Costa vai deixando a porta aberta, mas atira para mais tarde. Esta será “a primeira de várias [conversas] que teremos”, disse, salientando que o Orçamento do Estado tem um quadro próprio de discussão e há mais hipóteses para debater o tema.
Sobre o OE, disse apenas que o Ministério das Finanças tem tudo preparado para que “o próximo Governo possa proceder à sua aprovação com a atualização que o cenário macroeconómico impõe ou permite e consolidando aquele conjunto de compromissos que tínhamos assumido na especialidade e que constam já na proposta” inicial.
Destas conversas, como de outras, não estará o partido de André Ventura. Costa diz que vai fazer no Governo o que prometeu e fez em campanha eleitoral que é não dialogar com o Chega, apenas o fará quando for institucionalmente justificável. Sobre a exclusão destas audições, disse: “São de preparação da legislatura, de olhar para o programa e olhar para as prioridades e aí não há convergência nenhuma com o Chega. Não tenciono fazer diferente no Governo do que disse que ia fazer na campanha eleitoral.”
Nas respostas aos jornalistas, António Costa ainda admitiu a concentração de serviços do Estado num edifício da Caixa Geral de Depósitos, como noticiado pela SIC, uma espécie de cidade administrativa como a central de compras, mas que ainda demorará uma vez que ainda decorrem negociações com a CGD.
Uma nota final para o regresso dos debates quinzenais. O primeiro-ministro não se opõe, mas referiu que o seu problema com os debates quinzenais era “não pela periodicidade, mas pelo modelo”. É um modelo, argumentou, “concebido como um duelo e o duelo na vida política não é saudável porque degrada as relações pessoais e as relações políticas. São sketchs de produção para televisão mais do que a fiscalização efetiva da atividade do governo”. Contudo, disse, “o Governo toca a música que lhe mandarem tocar” e agora a pauta até é mais fácil tendo lá desenhadas as notas de uma maioria absoluta.