"Não há acordo". À saída da reunião entre as delegações do Governo e do Bloco de Esquerda, encabeçadas por António Costa e Catarina Martins, tudo ficou como estava. Mas há duas versões um pouco diferentes da mesma história.
Na perspetiva dos bloquistas, o ponto de situação é de assinalar pouca abertura do Governo para os seus nove pontos centrais das negociações do Orçamento para 2022: "Na segurança social, o governo não trouxe qualquer proposta", diz fonte do Bloco ao Expresso. "No trabalho, recusa a reversão de qualquer das cinco regras que o Bloco quer reverter", ainda que admitindo o que o Bloco chama de "medidas simbólicas que não concretizou por escrito". E apenas na saúde há indícios - também não concretizados ainda - de levar mais longe a questão da exclusividade no SNS. Sobre este ponto, a mesma fonte bloquista acrescenta que o partido ficou na expectativa de algumas ideias que sejam postas no papel: "Aguardamos novas redações com eventuais aproximações do governo".
Porém, do lado do Executivo, a história é um pouco diferente: "O Governo apresentou avanços em vários domínios, nomeadamente nas áreas do trabalho e saúde", diz uma fonte do Executivo ao Expresso. Com um senão: "Há pontos em que subsistem divergências já conhecidas". E uma promessa: "Vamos continuar a trabalhar".
Recorde-se que a agenda do Bloco, a tal resumida em nove pontos essenciais, tinha sobretudo foco nas pensões e na legislação laboral:
- Regresso aos 25 dias de férias, sem que estes estejam dependentes da assiduidade do trabalhador;
- O fim puro e duro da caducidade das convenções coletivas de trabalho;
- O princípio do tratamento mais favorável ao trabalhador;
- O aumento do número de dias por cada ano de trabalho para o cáculo da indeminização por despedimento coletivo;
- A exclusividade dos profissionais do SNS;
- A criação da Carreira dos Técnicos Auxiliares de Saúde;
- A revogação do fator de sustentabilidade e o recálculo de algumas pensões;
- E a valorização da idade pessoal de reforma.
Nas duas áreas em que o Governo garante ter apresentado "progressos", a do trabalho e da saúde, é previsível que a densificação das novas propostas surja na quinta-feira: António Costa já prometeu dois diplomas para esse dia, um sobre a agenda do "trabalho digno", outra sobre a exclusividade no SNS.
Para já, portanto, não há acordo com o Bloco - e há mais sinais negativos também do PCP. Mas a porta não está fechada: "Ficou prevista uma nova nova reunião", diz a fonte do Bloco ouvida pelo Expresso.