Afinal, estava escrito nas estrelas. “Não vou ser balão de oxigénio de ninguém”, disse Carlos Moedas na primeira entrevista que deu, ao Expresso, depois de ter sido anunciado como o trunfo do PSD para a Câmara de Lisboa. A história acabaria como começou: Carlos Moedas ganhou e carimbou a vitória inegável e indesmentível do PSD, mas, posto isto, os seus apoiantes distanciaram-se. Rio está a “apropriar-se”, “aquela vitória é de Carlos Moedas, não é partilhável”, disse na SIC Miguel Morgado, um dos nomes mencionados por Moedas como seu estratego. Leitão Amaro, outro dos mencionados, disse o mesmo e acrescentou: só se repete a vitória de Lisboa com um líder que não seja “muleta”. João Marques de Almeida diria o mesmo no “Observador”: “Muitos no PSD e na direita deveriam aprender a lição.” O discurso está concertado. A vitória de Moedas baralhou tudo e obrigou as peças a reposicionarem-se: Rui Rio acelerou o calendário para capitalizar e Paulo Rangel deu um passo atrás para afinar narrativa. É preciso contar tropas.
A ideia de que o PS hegemónico pode ser derrotado passou a ser o maior trunfo de Rui Rio para ganhar o PSD. Moedas tinha feito o seu papel, mas não sozinho. Até porque o argumento do núcleo duro de Rio é de que não foi só Moedas que ganhou a câmara por pouco, foi Fernando Medina que a perdeu por muito — e para isso também contribuiu o ataque que Rio andou a fazer a Costa durante a campanha. Mas quando, na noite eleitoral, Moedas disse que tinha ganho “contra tudo e contra todos”, o Expresso sabe que o recado era sobretudo para o PSD de Rio, que faltou em meios, em orçamento, em empenho e até presencialmente na reta final da campanha — quem esteve no último grande comício na antiga FIL foi Paulo Rangel, Nuno Morais Sarmento, Paulo Portas e Marques Mendes. “Moedas desinsuflou Rio na noite eleitoral”, ouve o Expresso de uma fonte distrital que acredita que Carlos Moedas vai passar a ter, a partir de agora, uma “influência brutal” junto dos militantes. E são eles que contam na hora de escolher o próximo líder do PSD. Não é certo se Moedas vai ter uma palavra a dizer na disputa interna ou se vai ficar equidistante, mas nos bastidores todos concordam: o trunfo de Rio para as autárquicas não deve muito a Rio.