Otelo e Eanes conheceram-se na Guiné, foram amigos e adversários, partilharam o mesmo ardor e o mesmo amor pela liberdade, mesmo nos momentos em que a sua conceção de democracia divergiu. Eanes mandou prender Otelo no 25 de novembro de 1975, venceu-o nas eleições presidenciais de 1976, mas isso não o impediu de sentir profundamente a morte do camarada de armas e de ter falado na cerimónia de despedida do militar que planeou a operação do 25 de Abril depois dos dois filhos do à data da Revolução major Otelo, Paula e Sérgio, e antes do capitão/coronel Vasco Lourenço.
Eanes partilhou com o Expresso um voto para a memória do futuro: “[Gostaria que geração dos meus netos] percebesse que, tendo sido muitos os cidadãos, instituições e partidos que contribuíram para a fragilização do regime do Estado Novo, coube a Otelo a autoria e o ato último de libertação do país. E que, por isso, a ele, a Pátria deve a liberdade e a democracia. E esta é dívida histórica que nada, nem ninguém, tem o direito de recusar.”