No início de tudo, houve uma disputa sobre competências. Afinal, a quem competia fazer o quê na organização de manifestações em Lisboa? À Câmara Municipal? À PSP? Ao Ministério da Administração Interna? Com dúvidas sobre uma legislação que distribuía as competências dos extintos governos civis que achava pouco clara, António Costa, então presidente da Câmara de Lisboa, decidiu em 2013 que não competia à autarquia estabelecer medidas de segurança, pelo que a partir dali a única coisa que os serviços iriam fazer era reencaminhar à PSP e ao MAI os requerimentos de manifestações que lhe chegassem. Anos depois, sem que o seu Governo tivesse alterado a lei sobre a qual tinha dúvidas, foi esse reencaminhamento e o desrespeito a esta ordem que deixaram a bomba nas mãos de Fernando Medina.
Há meandros ainda por esclarecer que só serão conhecidos esta sexta-feira quando Fernando Medina divulgar a auditoria que instaurou. Mas há uma parte do mistério que começa em 2013, com Costa como presidente da CML e Miguel Macedo como ministro da Administração Interna de Passos Coelho. “O município de Lisboa reencaminhará, portanto, as comunicações de manifestação ao Ministério da Administração Interna e à PSP, a fim de, no local e em face de uma manifestação em concreto, poderem ser exercidas as competências que a lei legalmente lhes confere, informando oportunamente os comunicantes”, lê-se numa carta que António Costa enviou a Miguel Macedo em 2013, durante o período de transferência de competências dos extintos governos civis, a que o Expresso teve acesso aquando das comemorações do Sporting. É essa mesma decisão, que remetia para o MAI as competências sobre manifestações, que vem destapar um pouco do véu sobre o novo caso.