No seu comentário semanal ao domingo, o comentador Marques Mendes começa por falar do alívio de restrições nesta segunda fase do desconfinamento que considera numa boa direção, mas assume preocupação. “Primeiro porque a situação na Europa é má e nós não somos uma ilha na Europa. Também porque este período da Páscoa pode gerar mais contactos e potencialmente mais contágios. Só daqui a duas semanas veremos. E, sobretudo, pelo célebre fator R. que segundo os dados da DGS reportados ao dia 1 de abril, ainda está em 0,97, mas segundo dados que tenho ao hoje o R para o Continente já está em 1.”
Marques Mendes deixa a nota que o futuro está nas mãos de todos, para que não se tenha de interromper as próximas fases de desconfinamento previstas.
Sobre a nova fase de vacinação e mudanças previstas é referido que no mês de abril serão administradas 1,8 milhões. No mês de maio, mais de 3 milhões. E no trimestre completo, 8,9 milhões de vacinas. E que o número de vacinas contratualizadas são de 35,8 milhões. “Não é excesso é precaução é prudência. Está-se a investir nas pessoas e economia.”, considera Marques Mendes.
Neste comentário é referido que até 3 de abril 550 mil pessoas estarão com a vacinação completa. Com as duas tomas. “Um resultado insuficiente face às expectativas.”
Foi também dito que a vacinação passará a ser feita por faixas etárias. A começar agora na faixa dos 70 anos, depois 60 e por aí fora. “É uma mudança que faz sentido, na direção correta. Isto à exceção de pessoas que independentemente da idade apresentem doenças com especial risco.”
Quanto à estratégia de vacinação em massa que aí vem, foi dito que no próximo dia 18 vai ser criada uma plataforma eletrónica no portal da Saúde, para as pessoas se possam inscrever, e escolher a data e ponto de vacinação que desejam. Quem não usar a plataforma será contactado pelos meios tradicionais. “Esta nova forma de inscrição pode ser muito interessante. Os objetivos são vacinar o maior número de pessoas. Chegar ao fim de maio com toda a população acima dos 65 anos vacinada com pelo menos uma dose. Um objetivo importantíssimo e ambicioso. O que significa que a partir de maio a intenção é vacinar 100 mil pessoas por dia. Neste momento anda à roda de 60 ou 70 mil. É um esforço grande.”, considera Marques Mendes.
A crítica subiu de tom quando o tema passou para os idosos e os lares. Já que a maioria dos mais velhos que estão nesses estabelecimentos continuam condicionados, sem visitas, apesar da maioria estar vacinada. Marques Mendes é perentório: “Esta parte dos idosos não compreendo. Não faz sentido. E muitos portugueses não compreendem. O Governo está aí a agir mal. Com falta de sensibilidade, algum egoísmo e alguma falta de respeito.” O comentador recorda que durante muito tempo foi dito ao país, que enquanto os mais velhos não fossem vacinados, não poderiam receber visitas. E o discurso mudou para quando houver imunidade de grupo. “Isto é de uma falta de sensibilidade enorme. Estes idosos estão a ser tratados como números numa folha de Excel quando são pessoas. E é preciso não ter egoísmo. Claro que as visitas dão trabalho, mas esse trabalho justifica-se para a sua saúde mental.”
Quanto aos apoios sociais urgentes aprovados pela AR, a pensar nos recibos verdes e sócio-gerentes, na contratação de profissionais de saúde e apoio a pais com filhos em casa, Mendes também não tem dúvidas. “Tirando o governo toda a gente da direita à esquerda achou que estes apoios são justos, necessários e sustentáveis. Considero-as justas. Ora se as medidas no essencial são justas e acomodáveis, e o aumento de despesa não é grande, porque é que se cria um conflito político em torno de leis necessárias e apoios justos?”
O comentário deste domingo finaliza com a alegada tensão entre Belém e São Bento.
Mendes considera que era previsível que o Presidente promulgasse e que o governo enviasse para o Tribunal Constitucional. Assim como acha previsível que o Tribunal diga que é inconstitucional. Para depois afirmar, sem rodeios: “O problema é político. Acho que a relação entre o Presidente da República e o primeiro-ministro sofreu um beliscão forte esta semana. E não havia necessidade. O problema é que o primeiro-ministro decidiu afrontar, desafiar e tentar beliscar o Presidente da República.” O comentador deixa claro que não o considera pela sua decisão ou divergência política, mas pela forma como atuou. “O primeiro-ministro decidiu fazer uma comunicação ao país para valorizar o confronto. Mas o pior foi o discurso que fez. Foi um discurso de críticas, indiretas e reparos ao Presidente da República. Não havia necessidade. Transformou isto num conflito e isto não é bom para ninguém.”
Sobre essa tensão entre São Bento e Belém, considera que a relação do governo com BE e PCP será mais difícil e que orçamento deverá ser uma manta de retalhos. “Este conflito não faz sentido. E o primeiro-ministro semeou ventos vai colher tempestades. A relação vai ficar mais azeda entre Belém e São Bento.”