"Uma candidata contra o medo do que aí vem" e que defende "a política com pê grande", disse Isabel Soares. Na plateia, logo na primeira fila, o ministro das Infraestruturas, aplaudia. Pedro Nuno Santos fez questão de estar presente na apresentação pública da mandatária nacional da candidatura presidencial de Ana Gomes. Mesmo que, para isso, tenha interrompido a sessão de apresentação dos planos para a TAP aos vários grupos parlamentares. E, claro, faltou à reunião do Conselho de Ministros, que decorreu sem a presença de António Costa, ainda em Bruxelas.
Os sinais políticos foram o principal objetivo da cerimónia. A escolha da filha do fundador e histórico do PS, Mário Soares, como mandatária, foi um deles. "Uma mulher livre, que nasceu socialista por todos os costados, que é socialista mas que nunca viveu encostada ao PS" - foi assim que Ana Gomes se referiu a Isabel Soares e à "honra" em tê-la na linha da frente da sua candidatura.
"Habituem-se", disse aos presentes, quando se referiu ao facto de ter escolhido uma mulher como mandatária. Mas, nas entrelinhas do discurso, ia bem mais longe do que uma questão de género. A candidata quer mostrar os trunfos que tem na campanha e a capacidade de aglomerar apoios dentro e fora do universo socialista.
Na plateia, para além de Pedro Nuno Santos, também havia socialistas de vários quadrantes, muitos dos quais desalinhados da atual liderança: Paulo Pedroso lá estava como parte da comissão de candidatura, mas ainda João Cravinho, Vera Jardim, Pedro Bacelar de Vasconcelos ou o ex-ministro da Cultura, Castro Mendes. Francisco Assis, presidente do CES também marcou presença. Manuel Alegre, Cristina Chéu, Tiago Barbosa Ribeiro e Susana Peralta só não compareceram por "compromissos inadiáveis", mas registaram o apoio à distância.
O fundador do Livre, Rui Tavares e os dirigentes do PAN, André Silva e Inês Sousa Real, também fizeram parte da audiência limitada por questões de segurança e sempre de máscara na cara. Ricardo Sá Fernandes foi outro dos apoiantes presentes.
Marcelo e os silêncios
"As próximas eleições presidenciais são fundamentais", disse Isabel Soares. Os "tempos inquietantes" e "difíceis" em que vivemos, justificam o apoio a uma candidata "frontal, corajosa e de esquerda", diz a mandatária nacional de Ana Gomes que fala em "esperança", mas também nessa "voz muitas vezes incómoda até para o próprio partido".
E a candidata agradeceu a "honra" e garantiu que "ter aceitado ser minha mandatária nacional dá-me grande força". E passou ao ataque. Na sessão de perguntas e respostas dos jornalistas, Ana Gomes aproveitou para falar dos silêncios presidenciais sobre matérias que considerou como "da maior relevância" ou "muito importantes". É o caso do "tristíssimo caso" da morte de um cidadão ucraniano no aeroporto e, também, nas críticas de Bruxelas ao modo de funcionamento da zona franca da Madeira. "Matérias gravíssimas para a democracia e sobre as quais, até hoje, não vi o senhor Presidente da República esboçar a mínima palavra".
"Eu não ouvi o Presidente pronunciar-se sobre a zona franca da Madeira. E era uma questão de absoluta prioridade", disse Ana Gomes sobre a matéria que motivou uma sanção de Bruxelas ao Estado Português pela concessão de "benefícios fiscais intoleráveis a empresas que não merecem e na base de dados falseados". O Presidente "não pode eximir-se de se pronunciar sobre o que é importante", disse Ana Gomes para o seu mais direto adversário. A campanha já começou a aquecer os motores.