O "enquadramento" é "substancialmente pior" do que noutros Orçamentos e as posições de PS e PCP são, em muitos casos, "muito diferentes". Mas, como diria Jerónimo de Sousa, até ao lavar dos cestos é vindima. Por isso, numa altura em que falta uma semana e meia para o Governo apresentar a sua proposta de Orçamento, os comunistas avisam: as circunstâncias são difíceis, mas ainda não há "decisões prévias" tomadas sobre o voto no Orçamento do Estado para 2021.
Depois de muitos dias em silêncio, esta quarta-feira foi o líder parlamentar, João Oliveira, que em entrevista à TSF esclareceu a perspetiva do PCP em relação às reuniões com o Governo que estão a decorrer. Com uma salvaguarda relevante: o PCP, como recordou, já "votou a favor, contra e absteve-se" em Orçamentos anteriores. Somando esse historial ao facto de a 'geringonça' estar enterrada, o partido está agora de mãos mais livres para decidir a posição que vai tomar.
No último Orçamento que discutiram, o Suplementar, o voto inicial, na generalidade, foi a abstenção e o final - depois de o PCP ter verificado alguma "soberba" na postura do Governo - foi contra. Pelas palavras de João Oliveira, pôde concluir-se que o PCP pode querer deixar o Orçamento chegar à fase da especialidade - que é a verdadeira fase do "ou sim ou sopas", frisou - e tomar depois uma decisão final. Mas sempre com os interesses do país na cabeça e não para responder a "crises políticas artificiais" criadas com o "alto patrocínio" do Governo e do presidente da República, atirou.
Por agora, João Oliveira assegura que há uma "grande diferença de posições" entre PS e PCP, que acaba por "pesar muito", mas não adianta o ponto em que as negociações estão. E frisa que para os comunistas as prioridades passam por garantir um novo apoio social extraordinário para o qual falta definir universo, condições de acesso, montante, entre outras questões que não são de pormenor; ou um investimento nos serviços públicos, como a Saúde ou a Segurança Social.
Conclusões sobre a geringonça? Ficou "muito longe" do que o país precisava, mas fez o caminho num "sentido muito positivo". Mesmo assim, no futuro não haverá misturas: "Não nos comprometemos com aquilo com que não nos podemos contratar. Se alguém tem a ilusão de que o PCP vai aceitar as imposições do défice, da UE, está completamente iludido".