Política

Há “forças antidemocráticas, retrógradas, fascizantes” prontas a “manipular” o “descontentamento” em Portugal, avisa João Ferreira

Em entrevista ao “Público” e à Renascença, o dirigente comunista critica o posicionamento de Marcelo durante o mandato, que “nunca pendeu para o lado dos mais desprotegidos”. Diz que irá respeitar a vontade do Parlamento quanto à Eutanásia. E garante que o projecto que tem para o país é “muito diferente” do da Coreia do Norte ou Venezuela

Tiago Miranda

João Ferreira, candidato pelo PCP, quer ser o Presidente de todos os portugueses. “Quero deixar bastante claro que nestas eleições me dirijo a muito mais gente, muito para lá das fronteiras do PCP. Dirijo-me a todos aqueles que se questionam sobre o presente e o futuro do país e que acham que as suas vidas podem ser melhores”, disse em entrevista à Renascença e ao “Público” o atual eurodeputado e vereador da Câmara de Lisboa - cargos que, garante, serão “incompatíveis” com a chegada a Belém.

Adjetivando a sua candidatura como “urgente” e “imprescindível no contexto que estamos a viver”, João Ferreira promete levá-la até ao fim. A análise é clara: Portugal tem, sob muitos pontos de vista, “um dos regimes democráticos mais avançados da Europa”, mas que tem sido “bloqueado” por sucessivos Governos e Presidentes ao longo dos anos. Estes protagonistas têm falhado a dar resposta aos problemas de “emprego, direitos, estabilidade, perspectivas de realização profissional.” E é essa falta de ação que tem levado ao crescimento de “algumas forças antidemocráticas, retrógradas, fascizantes”, prontas a “manipular” o “descontentamento” das pessoas.

Daqui, João Ferreira faz a ponte para criticar Marcelo Rebelo de Sousa: “em momentos-chave de conflito, o Presidente nunca pendeu para o lado dos mais desprotegidos”, afirmam dando exemplos como a promulgação das alterações à legislação do trabalho, ou a habitação - "este foi o Presidente que pôs em causa o direito de preferência dos inquilinos de um grande grupo financeiro com um veto.” Além disso, não esquece que Marcelo “levantou dificuldades” quando foi necessário defender o “carácter público dos transportes em Lisboa e no Porto” e a Lei de Bases da Saúde, preferindo alinhar com os privados.

Como Presidente, o dirigente comunista “respeitaria a vontade expressa do Parlamento” quanto à Eutanásia, independentemente da sua posição pessoal. No fim, quando lhe foi pedido para classificar o regime da Coreia do Norte, da Venezuela e dos EUA, João Ferreira deu a resposta mais “clara” possível: “o projecto de desenvolvimento que tenho para Portugal [tem] inúmeras diferenças com qualquer um dos exemplos que referiu.”