Política

Rio suspeita de crime no Novo Banco, pressiona Costa e descarta linha dura de Ventura

Líder social-democrata entende que as operações de venda de ativos do Novo Banco podem constituir matéria criminal e aponta o dedo ao Governo. Em entrevista à RTP3, Rio critica gestão do dossiê TAP e recupera fantasma de José Sócrates a propósito do hidrogénio. Sobre o futuro político, o presidente do PSD volta a deixar dois sinais: António Costa tem de negociar Orçamento à esquerda e aliança com André Ventura é possível se este se “moderar”- como está o Chega, Rio não quer

Rui Rio questionou o primeiro-ministro sobre a estratégia do Governo para a TAP: "Vai nacionalizar? Aumentar a participação? Ficar com ações quando a TAP estiver ainda mais falida?"
TIAGO MIRANDA

Rui Rio não larga o tema do Novo Banco. O líder social-democrata voltou a desafiar o Ministério Público a investigar as vendas de ativos do Novo Banco e apontou o dedo ao Governo, que, acusa, continua a pagar facturas de milhões de euros sem apurar o que se está a passar.

Como explica aqui ao detalhe o Expresso, o Novo Banco tem realizado operações de larga escala - cinco no total - que já causaram perdas de 611 milhões de euros à instituição financeira. Para Rio, os dados que hoje existem são suficientes para tirar conclusões.

“Eu não tenho dúvidas, tenho uma certeza: o Governo não cuidou de conferir as faturas que o Novo Banco lhe mandou. Vai pagando as faturas sem cuidar de ver se as perdas são eventualmente provocadas, perdas que são pagas pelo dinheiro de todos nós. Isto é dantesco", criticou o líder social-democrata.

Em entrevista à RTP3, conduzida pelo jornalista Vítor Gonçalves, Rui Rio sublinhou por diversas vezes a "gravidade política" do caso, mas não esqueceu a parte judicial. “Acho que há uma questão criminal no Novo Banco”, apontou.

TAP devia ter caído; hidrogénio faz lembrar Sócrates

Muitas vezes acusado de ser demasiado brando com o Governo, Rui Rio foi desafiado a apontar falhas do Governo durante este período. Mas, primeiro, o líder social-democrata fez um reparo: “Não estou aqui para fazer oposição ao Governo para fazer oposição por pequeninas coisas. O PSD não é um partido de nicho, não anda nas pequeninas coisas”, disse.

Depois de insistir na questão do Novo Banco, Rio apontou então outras duas grandes falhas de António Costa: a gestão do dossiê TAP e o plano de investimento no hidrogénio. No primeiro caso, o presidente do PSD admitiu mesmo que o Governo devia ter deixado falir a TAP dada a ausência de um plano de reestruturação da empresa.

“A primeira coisa que o Estado tinha de ter exigido era um plano de negócio e de reestruturação para a TAP. Esse plano não apareceu e o Governo disse alegremente ‘toma lá 1200 milhões de euros’. [Sem plano], mais vale deixar cair”, criticou Rui Rio.

Quanto ao plano de investimento no hidrogénio, que vai significar um investimento de 10 mil milhões de euros, o social-democrata voltou a repetir o que já dissera no Parlamento: vem aí um esquema assente em rendas excessivas, em tudo semelhante ao aconteceu com as energias renováveis. “São projetos megalómanos que já tinham existido com José Sócrates e o Governo parece não ter aprendido nada”, atirou.

Voto favorável no próximo Orçamento? Improvável

Sobre o futuro Orçamento do Estado, Rui Rio fez questão de recuperar uma ideia que já tinha deixado clara no Expresso, quando disse o seguinte: “O Orçamento suplementar e o próximo Orçamento do Estado são coisas muito diferentes. [O primeiro] tratava-se de um exercício para dar resposta a uma emergência nacional. Agora, o primeiro-ministro tem dito muitas vezes que os seus parceiros preferenciais são os partidos da esquerda. É isso que está em cima da mesa”, recorda Rui Rio em declarações ao Expresso. Nas entrelinhas: não pense o PS que encontrou uma ‘geringonça’ alternativa ao centro; é com a esquerda que António Costa tem de se entender.

Agora, em entrevista à RTP3, Rio reforçou a mensagem. “O primeiro-ministro já disse que o Orçamento será negociado com o PCP e com o BE. O PSD o mais que tem é recuar para a bancada, esperar pelo Orçamento e avaliar. Agora, a probabilidade de concordar com aquele Orçamento é grande? Não, é reduzidíssima”, disse Rio, sem resistir à ironia: “E vai ser um documento excelente porque vai ser sem austeridade, que foi aquilo que prometeram PS, Bloco de Esquerda e PCP. Vai ser limpinho e sem austeridade.”

Entendimentos com o Chega? Sim, se Ventura se moderar

Perante os sinais de evidente crescimento do partido liderado por André Ventura - Rui Rio reconheceu-o - o líder social-democrata voltou a recorrer à formulação que tem usado em todas as entrevistas recentes para explicar a sua posição em relação a futuras alianças:

“Se o Chega evoluir para uma posição mais moderada penso que as coisas se podem entender. Se o Chega continuar nesta linha de demagogia e populismo como tem tido, está aqui um problema, porque aí não é possível um entendimento com o PSD. Face àquilo que tem sido o Chega, descarto. Espero que o Chega possa evoluir para um plano mais moderado. Tem de mudar”, disse.

Esta possível aliança é, há muito, uma hipótese considerada pelo núcleo duro de Rui Rio, tal como contava o Expresso ainda em fevereiro deste ano, por altura do congresso de reeleição de Rui Rio. O problema, agora, é outro: com o Chega a crescer e o CDS a subir a dinâmica de alianças à direita pode mudar radicalmente. E isso preocupa (e muito) direção do partido.

Já na recta final da entrevista, e sem esconder algumas divergências pontuais com o atual Presidente da República, Rui Rio admitiu que o PSD “provavelmente” terá como “candidato natural” às próximas presidenciais Marcelo Rebelo de Sousa.