António Costa procura uma maioria, mas não pode estragar (todas) as pontes para governar, se não a tiver. A direita precisa de ganhar nas tv’s o que ainda não conseguiu na estrada - mas sem haver muito espaço para dois. Os atuais parceiros de Costa dão o tudo para evitar uma maioria, sem estragar o que conseguiram. Com todas estas condicionantes, eis as nossas apostas para os debates. A classificação do interesse previsível está numa escala de 1 a 5.
Costa-Jerónimo
dia 2, SIC
O primeiro dos debates terá graça de seguir. Na entrevista ao Expresso, há pouco mais de uma semana, António Costa fez rasgadíssimos elogios a Jerónimo de Sousa e ao PCP. Fê-lo por comparação aos bloquistas, mas em termos que deixaram o líder comunista em má posição - como é que o eleitor comunista explica ao seu eleitorado que é visto como um parceiro “previsível” ou “fácil” de negociar, em plena campanha? Sabendo disso, Jerónimo distanciou-se na entrevista desta semana ao Expresso: recusou negociar um novo acordo escrito, levando Costa para uma negociação dossiê a dossiê, a partir de outubro (começando pelas novas leis laborais)
Previsivelmente, no debate do arranque será Jerónimo a ter que atacar, começando a definir as regras do jogo que se segue. E Costa terá que defender com jeitinho, para não afastar muito o potencial parceiro. É que mesmo sendo orçamento a orçamento, pode bem precisar de Jerónimo.
Grau de interesse: 3
Catarina-Cristas
dia 3, RTP3
Nenhuma dúvida de que será um debate animado, dado o ponto de partida de cada uma: uma no canto da esquerda, outra no da direita, as duas combativas em debate. Mas o duelo feminino não terá outro objetivo que não seja o da mobilização dos respetivos eleitores potenciais. Mesmo assim, convém manter-se atento: é que para Assunção, por exemplo, cada debate será um teste para convencer os eleitores de centro-direita de que ela é melhor opositora do que Rui Rio (ou os dos pequenos partidos). É que o número de indecisos ainda é grande, a esta distância das legislativas.
Grau de interesse: 2
Rio-Cristas
dia 5 (SIC)
Atenção a este: o debate entre os líderes dos maiores partidos de direita vai ser, seguramente, um momento decisivo para os dois. Estando em queda nas sondagens, já nem somando 30% das intenções de voto, Rui Rio e Assunção Cristas precisam, como de pão para a boca, de fazer prova de que merecem o voto de quem não gosta da ‘geringonça’. E, tendo em conta que o ‘mercado potencial’ não parece ser grande, o empate não chega a nenhum. Será, portanto, um debate rico. Ou o pré-anúncio de um problema ainda maior para os dois. Já marcou o dia na agenda?
Grau de interesse: 4
Costa-Catarina
dia 6 (RTP1)
Imagino que se lembre: há quatro anos, Catarina Martins usou o debate com António Costa para lhe fixar as linhas vermelhas do Bloco para participar numa solução de Governo. Estávamos longe da geringonça e o BE estava em situação delicada, muito em baixo nas sondagens. Mas o desafio público virou definitivamente a campanha e abriu caminho ao que sabemos. Hoje, tudo é diferente: Costa tem criticado o Bloco; Catarina Martins nunca respondeu à letra, apresentando-se como parceiro “responsável”. Mas o que separa os dois é, claro, ainda muito notório. Como PS e BE são, nas sondagens, dois dos três partidos com maior potencial e crescimento eleitoral, todos os olhos estão postos neste debate. Haverá novas linhas vermelhas? Catarina dirá a Costa que o BE quer ir para Governo? E Costa, repetirá as críticas - sabendo que pode perder votos à esquerda com isso? Por tudo isto, e porque deles depende muito da governabilidade futura, apostamos que este pode ser o novo clássico-dos-clássicos dos debates. Mesmo sabendo que, às vezes, os clássicos são tão táticos que acabam a zero.
Grau de interesse: 5
Catarina-André (Silva)
dia 7 (SIC-Notícias)
O líder do PAN estreia-se nos debates dos grandes - e, por si só, isso já é razão para passar os olhos pela tv. Neste caso, atenção a outro ponto: sabendo que disputa com o PAN um eleitorado muito jovem, Catarina Martins já o classificou como o partido de uma causa (os animais), tentando chamar ao Bloco a outra, o combate às alterações climáticas, que levou André Silva a eleger o primeiro eurodeputado do partido. Assim sendo, talvez seja mais animado do que pensaria à primeira vista.
Grau de interesse: 3
Rio-André
dia 9 (RTP1)
Provavelmente não será tão animado como o anterior, porque PSD e PAN não tem perspetivas de vir a trabalhar juntos, nem têm grandes pontos de contacto. Neste caso, o risco está mais no PSD, porque um mau debate com o estreante André Silva colocará o líder social-democrata em maus lençóis. Já para este, servirá, provavelmente, de aquecimento para o que se segue.
Grau de interesse: 3
Costa-André
dia 11 (SIC)
Com a mira apontada ao Bloco, António Costa começou a valorizar mais o PAN como potencial aliado na próxima legislatura (se depois das europeias, chegou a responder à SIC que não se lembrava de como o partido tinha votado o primeiro orçamento, entretanto já decorou o percurso). Mas André Silva parece em sentido oposto: se nestes quatro anos, não assinando os acordos de esquerda, aprovou três em quatro orçamentos do PS, agora diz que só apoiará Costa se houver acordo escrito. Na semana passada apresentou um programa eleitoral ambicioso, já muito longe do de um partido “dos animais”, fixando mais alta a fasquia de um acordo. A dúvida é se André Silva põe algumas dessas medidas como condição de governabilidade. Um exemplo: Costa aceitaria travar o aeroporto do Montijo para garantir os próximos orçamentos?
Grau de interesse: 4
Rio-Jerónimo
RTP1
Rui Rio volta ao ecrã, mas para um debate onde pouco tem a ganhar: o eleitorado dos dois não se cruza, o pensamento dos dois toca-se raramente, pelo que não é previsível, digamos assim, um debate interessante.
Grau de interesse: 1
Costa-Cristas
TVI
Ao longo destes quatro anos, nos debates quinzenais, os ‘diálogos’ entre os dois foram os momentos mais vivos das sessões. Nessa altura, Cristas tentava assumir-se como líder da oposição (até porque durante ano e meio o PSD teve o seu presidente fora do Parlamento). Acontece que, chegando as europeias, o CDS teve um choque com o resultado. E Cristas colocou-se numa pele menos agressiva, admitindo-se no CDS que a agressividade contra Costa tivesse prejudicado a imagem do partido. Problema: mesmo assim, o CDS continuou a cair. Daí que talvez seja interessante guardar este dia para ver o debate: no estado em que a direita está, Cristas terá que apostar tudo numa vitória contra o primeiro-ministro, para recuperar o fôlego perdido. Sendo em canal aberto, será a sua melhor hipótese.
Grau de interesse: 3
Cristas-André
RTP3
Poupo-lhe tempo: a menos que não tenha muita coisa para fazer, ou que Cristas surpreenda muito apostando em ganhar todos os debates à goleada, este não parece ser o mais relevante dos debates.
Grau de interesse: 1
Rio-Catarina
TVI
Para Rui Rio, estará a aproximar-se o dia d - mas ainda não é este. Tal como para Assunção Cristas esta terça-feira, o debate com Catarina Martins tem um interesse óbvio para o líder de direita: mostrar que é mesmo… de direita (porque o eleitorado destes partidos claramente tem um problema com o Bloco). Dito isto, à partida não será um blockbuster.
Grau de interesse: 2
Rio-Costa
RTP+SIC-TVI
O duelo entre os dois candidatos a primeiro-ministro é a última oportunidade de Rui Rio para recuperar terreno - sabendo nós que a distância a que as sondagens o colocam do PS é já enorme. Na direção do partido, aposta-se que Rui Rio aprendeu com o erro cometido na campanha interna e que não irá para o primeiro debate com António Costa como foi para o debate com Santana Lopes: à defesa. Neste caso, também não teria essa opção: Rui Rio terá que mostrar que é alternativa e porquê. Terá que deixar claro que é candidato a primeiro-ministro e que não está como líder de transição. Quanto a Costa, tem aqui, também, o seu momento decisivo: se é para convencer o eleitorado de centro e direita que é merecedor de uma maioria, não haverá segunda oportunidade. Apesar de tudo, o duelo PS-PSD ainda é o jogo grande (mesmo que um dos grandes pareça, neste momento, em queda abrupta, como um dos grandes do nosso futebol).
Grau de interesse: 5
Todos contra todos
TSF-RR-Antena1
Será a confusão habitual: seis candidatos, seis vozes diferentes a aparecer numa rádio perto de si. Se os moderadores tiverem sucesso, será talvez o momento para aparecerem algumas discussões programáticas interessantes. Ou aquele dia em que, estando todos juntos na mesma sala, saia um trunfo da cartola de algum deles. Provavelmente não.
Grau de interesse: 2
Rio-Costa
TSF-RR-Antena1
O segundo momento das rádios é a segunda oportunidade para Rui Rio e António Costa medirem diferenças. Não é para desvalorizar: há quatro anos, foi aqui que Passos Coelho conseguiu marcar alguns pontos contra Costa, depois de um aparente desaire no debate a dois televisivo. Valeu-lhe a recuperação de alguma confiança, que o levou a uma vitória nas eleições. É certo que não o levou a governar, mas deu-lhe pelo menos o prazer de chegar em primeiro (mesmo não agarrando a primeira oportunidade). O problema, claro, é que as rádios não chegam a tanta audiência - mas a mensagem sempre passa.
Grau de interesse: 4
Todos contra todos
RTP
Certo: é todos contra todos outra vez. Mas este será o último debate. E acontece já em cima do arranque da campanha oficial. Não é improvável que alguém precise de jogar ao ataque, tornando a habitual confusão de um debate a seis em alguma coisa que marque os dias finais. Pelo sim, pelo não, marque na agenda. Até porque só terá mais debates daqui a uns quatro anos. Ou não.
Grau de interesse: 3