Política

Ferreira Leite critica “complexo” da direita com o défice. “É suicida para o país”

A ex-ministra das Finanças de Barroso defende uma política orçamental mais flexível para o país e classifica de “loucura” a procura pelo superávite… que Rui Rio sempre defendeu

TIAGO PETINGA/ Lusa

Num momento em que tanto se discute a alegada crise da direita, Manuela Ferreira Leite, apoiante de primeira hora de Rui Rio, decidiu dar o seu contributo. A antiga líder do PSD considera que a direita tem de se libertar do “complexo” em que vive por causa das metas do défice e arrepiar caminho. “Política devia ser deixar crescer o défice”, defende.

No programa Pares da República, da TSF, a ex-ministra das Finanças chegou mesmo a sugerir que o caminho seguido até agora por Mário Centeno é “suicida” para o país. “Este défice é absolutamente suicida em relação ao país, não tenho nenhuma dúvida em afirmar isto. Ninguém nos obriga a este défice, e ele tem um preço: este nível de carga fiscal e esta degradação dos serviços. Não é possível, evidentemente, baixar os impostos, melhorar os serviços e o défice ficar na mesma”, disse

Apesar de não ser a primeira vez que critica o modelo de consolidação orçamental seguido pelo Governo, a verdade é que, ao recusar de forma tão explícita o objetivo “superávite”, Ferreira Leite contraria abertamente Rui Rio, que já classificou a garantia desse excedente como uma “obrigação” de qualquer Governo em tempos de crescimento.

“Com crescimento económico temos de conseguir construir o nosso orçamento de forma a ter superávite nas contas”, disse o líder do PSD ainda em março deste ano. Em abril, voltaria à carga: “Quando temos taxas de crescimento razoavelmente aceitáveis, temos obrigação de ter superávite”. Um ano antes, até tinha teorizado: “E se de repente há uma conjuntura económica que até permite um orçamento português com 3% de superávite? Eu diria: Não quero, baixo a carga fiscal. Prefiro baixar os impostos e ficar com um superávite de 0,5%”. Apesar das nuances, Rio nunca rejeitou essa meta como uma necessidade.

Para Manuela Ferreira Leite, que quando foi ministra das Finanças de Durão Barroso chegou a ser acusada de ser obcecada pelo défice, esse objetivo não faz sentido. “A política devia ser deixar crescer o défice, não para os 3%, mas também não para estarmos à procura de superávites. Isso é a verdadeira loucura”, rematou.