Assessor de imprensa do PSD durante mais de 40 anos, que percorreu todos os líderes do PSD, José Mendonça morreu hoje vítima de doença prolongada. Trabalhava com Marcelo Rebelo de Sousa em Belém desde finais de 2017. Conhecido por Zeca entre os jornalistas, começou no partido como segurança logo depois da fundação e passou de imediato para a assessoria de imprensa. Fazia parte da história do partido.
"Tinha uma grande capacidade de relações públicas e para contactar com pessoas, por isso passou rapidamente para essas funções", recorda António Capucho ao Expresso, que foi secretário-geral adjunto do partido em 1975 (que nessa época eram as funções equivalentes a secretário-geral, cujo cargo exerceu depois até 1983).
"Tudo graças ao feitio dele. Pela competência por um lado, mas muito pelo feitio", diz Capucho. "Rapidamente conquistava os vários líderes", conta o antigo secretário-geral. "Não creio que tenha passado pela cabeça de alguém marginalizá-lo dessas funções. Manteve-se sempre como um profissional, militante ativíssimo, mas sempre equidistante em relação a todas as situações que se foram sucedendo. Adaptava-se e as lideranças adaptavam-se a ele", explica o histórico social-democrata.
Num partido em que as guerras fratricidas e as lideranças se sucederam a um ritmo nunca visto noutro partido português, Zeca apenas tomou partido uma vez. Chegou a manifestar de alguma forma discordância com Mota Pinto que estava no Governo com o PS no Bloco Central, mas arrependeu-se e nunca mais faz política no PSD. Manteve-se sempre neutro. Era discreto. Conhecia muitos segredos de todas as lideranças. Mas apesar de ter uma boa relação com todos os jornalistas de política, não contava. Era assim que conseguia manter a confiança dos líderes que se iam sucedendo na Buenos Aires e depois na São Caetano à Lapa.
"O Zeca começou por ser um segurança no partido, como havia dois ou três que asseguravam de dia e uma parte da noite", recorda Pedro Themudo de Castro, o primeiro responsável pela comunicação social e relações públicas do partido em 1974. "Entretanto, o Zeca começou a trabalhar como meu assessor. Tinha um jeitão".
Como Themudo de Castro levava "uma vida infernal", a certa altura "não aguentava mais". E lembrou-se do Zeca: "Como em diversas ocasiões me tinha ajudado, convidei-o para trabalhar comigo". Eram anos quentes de grande polarização política, em que o PSD tinha dificudade em entrar na comunicação social. "Era um tipo fora de série, de uma integridade a toda a prova. e tinha outra coisa. Era amigo do seu amigo", recorda o primeiro assessor de imprensa do PSD.