Marcelo Rebelo de Sousa chegou atrasado ao Fórum Económico, em Benguela - chegado de Lubango -, para apelar a uma “corrida contrarrelógio” em favor da economia angolana, e distribuiu elogios não só ao Presidente João Lourenço, mas também ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e sobretudo ao primeiro-ministro António Costa. Para o Presidente da República, este é “um dia histórico”. Marcelo discursou aos empresários portugueses e angolanos - 140 vindos de Portugal - sem falar de números, de valores de investimento, inflação, PIB ou diversificação da economia. Mas falou de amor.
Não foi ortodoxo, naquele que devia ser mais um dos momentos altos da visita, até porque tanto Marcelo como João Lourenço assumem que as relações pessoais ajudam às diplomáticas que por sua vez impulsionam as económicas. Um casal de empresários portugueses na área das pedreiras confidenciava ao Expresso, minutos antes da intervenção, que o ambiente para os negócios é muito melhor quando há boas relações políticas.
Política não. É amor. Marcelo começou por ser críptico. Alguém achava que toda esta operação seria um falhanço, era um recado, mas o Presidente não disse para quem, nem mesmo depois quando questionado pelos jornalistas. “Eles não compreendem, eles, que eu encontro aqui e ali nalguns pontos do universo, nas visitas que fiz. E encontrei uma resposta, porque para compreender é preciso cometer e amar. Não se aprende a amar Angola nos manuais, como não se aprende a amar Portugal nos manuais". E continuou, inspirado - esta manhã já tinha feito um discurso a dizer para as pessoas fazerem as pessoas felizes de modo a encontrarem a felicidade - "Ninguém ama em teoria, só se ama em concreto pessoas de carne e osso."
Entre amor e afetos, sobrou o elogio político: “Queria saudar todos aqueles que permitiram este dia histórico. Saudar o Presidente João Lourenço e os governantes do pais irmão, Angola, que no seu trabalho ao longo dos últimos meses permitiram este dia histórico.” A seguir, “em homenagem à justiça”, elogiou o papel da visita de António Costa. E não esqueceu “a vontade política do MNE, uma vez, duas vezes, três vezes”. E até disse que não se imagina “a catadupa de telegramas diplomáticos” que teve de ler nos últimos meses.
E, entretanto, a economia. Na audiência estavam grandes empresários angolanos e portugueses como António Mota ou Pedro Teixeira Duarte. O Presidente salientou que os portugueses "conhecem a terra e conhecem as gentes, não prometem para daqui a anos. Sabem que cada minuto é essencial para Angola hoje”. Foi um apelo ao investimento com o argumento de que Angola precisa urgentemente de recuperar a economia, um misto de aproveitar uma oportunidade ao mesmo tempo que se ajuda um amigo. "É uma corrida contrarrelógio, de quem já está, já conhece, não vai ensaiar e não vai experimentar, é uma vantagem competitiva que sabem que existe.”
Marcelo tem insistido nesta mensagem: os portugueses conhecem o terreno e por isso podem pôr investimentos em marcha mais depressa do que empresários de outros países. Seja por amor ou interesse, resta saber se, como o Presidente disse, as intenções serão mesmo concretizadas.