Passadas mais de cinco décadas, as imagens daquele dia, 13 de maio de 1969, continuam “gravadas a fogo” na memória de Arlindo Jesus. Tinha 22 anos e chegara à Guiné há cinco meses, integrado num batalhão de artilharia, quando a unidade foi apanhada por um rebentamento no meio do mato. “Um colega meu foi atingido e ficou sem tronco. O que mais me marcou foi ter de andar à procura dos pedaços de carne para os podermos devolver à família”, recorda.
Meses depois, ele próprio acabaria por ser apanhado por estilhaços, que lhe atingiram vários órgãos. Não morreu por milagre, mas ficou gravemente ferido, carregando até hoje as sequelas físicas do ataque. As marcas psicológicas, porém, são as que mais lhe pesam. Durante décadas, não foi capaz de falar delas. Fechou-se numa concha e reservou-se ao silêncio. “Comecei a beber para anestesiar a cabeça e tentar esquecer ao máximo”, desabafa, no episódio especial do podcast “Que Voz é Esta?”, gravado ao vivo esta semana na Livraria Buchholz, em Lisboa, por ocasião dos 50 anos do 25 de Abril.
Ouça aqui o episódio: