A reforma foi, para Manuela Moutoso, 68 anos e residente na Costa da Caparica, em Almada, um "choque". De repente, não tinha qualquer atividade com que ocupar os seus dias. “Trabalhava como assistente executiva numa consultora. Tinha uma vida extremamente ativa. Quando me reformei foi um choque.”
Como não tinha a “obrigação profissional” de sair de casa, começou a fazê-lo cada vez menos e a isolar-se. “Para tentar contrariar isso, vestia-me e saía de casa. Chegava ao carro e pensava: ‘Mas onde é que eu vou?’". Com os filhos e os amigos ocupados durante o dia, a trabalhar, Manuela Moutoso não tinha para onde ir nem com quem.
"Cheguei a ir muitas vezes ao supermercado, não porque precisava de comprar alguma coisa, mas para poder trocar duas ou três palavras com alguém. Sentia-me extremamente sozinha e a dada altura já não tinha vontade de fazer nada. Sabia que, se continuasse naquele registo, mais cedo ou mais tarde iria ficar doente", conta, em entrevista ao mais episódio do podcast “Que Voz é Esta?”, que tem como tema o envelhecimento e a saúde mental.