Alexandra Teixeira não ligou quando, aos 4 ou 5 anos, a filha disse, pela primeira vez, que queria ser um menino. Pensou que fosse “uma coisa passageira”, mas o desejo não esmoreceu com o tempo. “A insistência mantinha-se. Queria ser rapaz, usar só roupa de rapaz e ter o cabelo curto”. Ainda assim, não valorizou. Mas um dia, quando chegou a casa, encontrou a criança, então com 10 anos, num “pranto convulsivo”. “Mãe, eu não aguento mais. Choro todas as noites porque quero ser um rapaz”, suplicou-lhe.
Naquele momento, e perante tão profundo sofrimento, Alexandra percebeu que tinha de fazer alguma coisa. “Disse-lhe: ‘tu vais ser um menino, não vais é ser já.’ Depois percebi que, de alguma maneira, ele já era um menino, mas ninguém o via assim”, recorda, no mais recente episódio do podcast “Que Voz é Esta?”.