A escritora norte-americana Joan Didion, no livro que escreveu sobre a morte do marido, intitulado “O Ano do Pensamento Mágico”, descreve como a morte, antes tão omnipresente e familiar, foi removida do espaço público. Ao mesmo tempo, o luto passou a ser encarado como uma espécie de “autocomiseração mórbida”, instalando-se a ideia de que as pessoas que escondem o seu luto quase completamente, guardando a dor para si mesmas, sem manifestações de tristeza, devem ser admiradas e enaltecidas.
Mas estes fenómenos têm grandes implicações nos processos de luto e é necessário “trazer a morte de volta à vida”, diz Lídia Rego, psicóloga na área dos cuidados paliativos no Centro Hospitalar Lisboa Central e membro da cooperativa de solidariedade social LInQue, que presta estes cuidados em casa e promove sessões de apoio ao luto.
“A morte precisa de ser cuidada e amparada, para ser entendida por quem fica. É esta naturalidade que vai permitir viver um processo de luto de forma acompanhada, evitando que as pessoas se isolem. A grande perda, após a morte de alguém próximo e muito significativo, é ficar sozinho a lidar com a dor. Enquanto não estivermos sintonizados com isto, continuará a ser muito difícil lidar com a morte de forma saudável e até construtiva, fazendo novas aprendizagens.”