Em meio quilómetro quadrado, no extremo norte da Cisjordânia, vivem cerca de 12 mil refugiados palestinianos. Muitos estão ali desde 1953, quando o campo foi construído para começar a receber parte dos palestinianos desalojados pela primeira guerra israelo-arábe. A resistência contra a ocupação de Israel continua a ser o fermento das identidades de milhares de pessoas que já nasceram deslocadas, refugiadas, desapossadas, à força, das suas casas.
Na segunda-feira passada, pelo menos 1000 soldados das Forças de Defesa de Israel (IDF) invadiram as estreitas ruas do campo com bulldozers, prenderam pessoas e bombardearam zonas onde, dizem as forças israelitas, funcionavam fábricas de armamento e se escondiam terroristas. Morreram 12 palestinianos e um soldado israelita. Israel diz que a operação foi necessária para enfraquecer grupos como o Hamas e a Jihad Islâmica, que têm disparado daqui muitos dos morteiros que atingem Israel. Os defensores da resistência palestiniana perturbam-se com a mera menção da palavra “terrorista” porque entendem que qualquer povo invadido tem o direito a defender-se, incluindo pela força, como acontece na Ucrânia, e não é justo que contra Israel nunca sejam utilizadas palavras semelhantes, rótulos que têm muito sucesso na descredibilização de qualquer luta.
Jenin vai trazer mais violência? Haverá uma renovação política na Palestina? Uma frente unida que encontre um caminho para ser ouvida além dos disparos com rockets artesanais, esfarelados, quase sempre, pelo poderoso escudo anti-mísseis de que Israel dispõe? E quanto a Israel? Vai ter uma liderança política, um dia, que decida, finalmente, que a ocupação e o constante medo de deixarem de existir não são um caminho viável nem sequer para os próprios israelitas? Onde fica o direito de retorno de tantos refugiados, não só estes que vivem na Cisjordânia, mas também os que vivem no Líbano, na Jordânia, na Europa.
Tentamos responder a estas perguntas - e a outras que surgiram na conversa - em mais este episódio do podcast Mundo a Seus Pés, em que contámos com a participação de Joana Ricarte, investigadora no Instituto Jurídico da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, professora na Universidade da Beira Interior, e que tem como uma das principais áreas de investigação a forma como conflitos prolongados afetam a identidade e a cultura dos povos e com a de Carlos Almeida, historiador e vice-presidente do Movimento pelos Direitos do Povo Palestininano e pela Paz no Médio Oriente.
A sonoplastia é de João Martins.
Podcast da secção de internacional do Expresso assinado por Cristina Peres, Pedro Cordeiro, Manuela Goucha Soares e Ana França. Episódios semanais sobre assuntos que dominam a atualidade mundial, com jornalistas, correspondentes e outros convidados. Ouça aqui outros episódios: