Na baixa do Vale de Alcântara umas construções modernas viram as caves dos parqueamentos inundadas pelas enxurradas da rua porque as águas desceram pelas rampas dos acessos automóveis, que por erro de projecto desenharam essas mesmas entradas ao mesmo nível do passeio. Bastava fazer subir essas rampas a cerca de um metro acima do passeio, para nada dessas e de outras inundações se terem verificado. O mesmo se diga das cotas de soleira das entradas dos prédios e das entradas de lojas e espaços comerciais - ou das próprias montras em vidro - que estão ao nível dos próprios passeios, não se defendendo minimamente dos riscos de cheias.
Portanto, o aspecto de ordenamento e de construção em zonas baixas, não é ainda assim, a questão mais determinante. Basta ver as imagens do Cacém ( Sintra), onde o projecto de reabilitação urbana ( Polis), desenhado por um conhecido arquitecto e agora autarca em Lisboa, não teve em conta os necessários estudos hidráulicos, mais parecendo que os novos viadutos e avenidas que se rasgaram se destinaram a serem novos caudais de ribeiras, tal foi o volume de águas que as mesmas transportaram, onde era suposto só transitarem pessoas e carros.
Basta ver as secções de manilhas das águas pluviais que por regra têm a mesma secção na cumeada como na meia encosta ou até muitas vezes nas partes baixas. Ora o ordenamento não trata desses aspectos. Isto são questões da engenharia hidráulica. Estranhamente, nunca vi a Ordem dos Arquitectos a levantar estas questões. Pelo menos com o mesmo vigor com que o fez na luta pela revogação do célebre DL 73/73, em que se exigia a exclusividade das assinaturas de projectos urbanos para arquitectos.
Os projectos deviam desde sempre fixar cotas altas nas entradas do prédios ( com as necessárias rampas para deficientes, evidentemente), nas lojas comerciais e nos pisos térreos, de acordo com cotas que os estudos de cheias assim o determinassem. Ora isto, não tem tanto a ver com ordenamento do território, mas sim com hidráulica e bom senso. Coisa que aquele "responsável" da Protecção Civil de Loures não provou possuir, ao garantir de véspera na RTP, que cheias como em 1967, em Loures: jamais!
No desastre do carro com duas senhoras mortas em Belas (Sintra), o caso então é revoltante. Construíram-se desde 67, milhares de fogos em Belas e no Cacém, enquanto esse troço de 1,5 km na EN 117 - entre Pendão e Belas - permaneceu estreito e apertado entre a ribeira do Jamor e uns muros enormes com mais de 6 metros de altura, que logo que chovia formavam perigosas represas prestes a rebentarem. Há 20 anos, os pilares da CREL só vieram agravar essa situação. E mais inquietante ainda, foi a facilidade nos gastos de 2 milhões de contos na altura, para um túnel ali bem próximo (túnel da CREL em Belas-Carenque), para proteger as ditas pegadas dos dinossauros... Posto isto, alguém andou a brincar com as águas!
João Baptista Pico, Abrantes
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