O Parlamento Europeu aprovou uma nova lei impondo que a publicidade a automóveis exiba alertas sobre os perigos e os níveis de emissão de CO2.
Os alertas deverão ocupar 20% do total do espaço, quer seja imprensa, rádio ou televisão. Não está ainda decidido a forma e o conteúdo desses avisos sobre os malefícios do CO2, mas poderão vir a ser muito idênticos aos dos maços de tabaco. Frases como: "Esta mota provoca inundações na Ásia" ou "Este automóvel vai levar o mar até Beja" vão passar a informar, esclarecer e estarrecer os cidadãos europeus.
Parece-me bem.
Ao contrário do que alguns marketeiros têm vindo a afirmar, esta lei não é um atentado ao negócio da comunicação. Muito pelo contrario. É o reconhecimento por parte do Parlamento Europeu das excepcionais capacidades dos publicitários. Se o planeta precisa de ser salvo da extinção quem melhor que os publicitários para o fazer? Não estou a ver ninguém, com excepção talvez dos chefs e dos empregados de mesa. É que depois dos anúncios poderá ser a vez dos menus dos restaurantes. Uma lei que obrigue a divulgação da pegada de carbono da própria refeição. Por exemplo, pedimos o menu e lá vem a descrição dos pratos: Picanha Brasileira (vinda de avião e depois de pequena camioneta), sobre arroz basmati (vindo de antigo petroleiro monocasco) e espargos verdes (trazidos por uma mota-triciclo fumarenta) com alecrim da nossa horta - 12 euros e 0,8 kg de CO2.
O café, como todos sabemos, também não é cultivado cá. Vem de barco. Ora isso significa mais poluição. Mais carbono. Abaixo então o café. Mais vale uma população ensonada do que carbonada.
E whisky? Vem de avião por isso nem pensar. A menos que seja produzido em Sacavém e seja distribuído de bicicleta.
Esse gás falso como judas, que se fez passar por nosso amigo durante anos, séculos, milénios, que se dizia fundamental para a vida, está agora a tentar acabar com as poucas coisas que ainda nos dão prazer. Se não actuarmos já, poderá chegar o dia em que Parlamento Europeu peça à população para praticar sexo com menos frequência para evitar a respiração ofegante e a consequente emissão de CO2.
É preocupante. O carbono poderá vir a dar lugar à inquisição dos tempos modernos.
A polícia do CO2 vai invadir-nos a casa a meio da noite com base numa denúncia do bufo do nosso vizinho apenas porque tomámos um banho quente durante 15 minutos. Só não seremos queimados vivos porque isso emitiria mais carbono. Felizmente.
Em nome do carbono tudo poderá ser proibido. Adeus viagens de avião, adeus Fórmula 1, adeus carros antigos, adeus fogo-de-artifício, adeus banhos de imersão.
Para sobrevivermos vamos ter que deixar de viver.
O que eu não percebo é porque é que estão à espera que sejam os publicitários a resolver o assunto? Onde é que a comunidade científica anda com a cabeça? Será que não gostam de um bom banho quente? Ou de acender a lareira no Inverno? Ou mesmo de passear pelas estradas do Alentejo num Mercedes GullWing?
O planeta e as coisas boas da vida precisam de vocês.
Vamos (é uma força de expressão) descobrir um outro meio de consumir o carbono em excesso enquanto plantamos biliões de alfarrobeiras por esse mundo fora. Será que não podemos mandar algum carbono numa sonda para a Plutão? Será tão caro assim fazer um gasoduto até à estratosfera e deitar para lá o CO2?
Já que esta semana estão todos reunidos em Bali toca a pensar mais um bocadinho. É urgente ter ideias (e das boas, não destas) porque a humanidade emite 2.500 biliões de toneladas de CO2 só por respirar. Se ao menos os indianos vissem mais televisão.
Nuno Presa Cardoso
Publicitário
PS - Se por acaso ficou de tal maneira deprimido que está a pensar suicidar-se, nem pense nisso. Um corpo a decompor-se liberta demasiadas gramas de CO2.