Sofia Galvão

O futuro não espera

Para um país como Portugal, o horizonte permite esperança. Num tal contexto, ser remoto ou pequeno, assim como não dispor de grandes recursos naturais, deixa de ser tão limitador.

Sofia Galvão (www.expresso.pt)

Antonio Machado disse um dia, "Que difícil é, quando tudo baixa, não baixar também". Hoje, olhando para Portugal, sinto o eco desse desabafo. E a sua lucidez certeira arrepia-me.

Mas, enquanto vivemos tempos medíocres, viscosos, sujos, feitos de uma degradação transversal e endémica, o mundo avança sem esperar por nós.

Por isso, no âmbito da maioria dos bens transaccionáveis, as nossas empresas serão forçadas a integrar-se na gradual mundialização das cadeias de produção - e das duas uma, ou asseguram os mesmos níveis de qualidade, inovação e produtividade, ou ficam irremediavelmente de fora. Por força da quebra de barreiras, também nos serviços a competição será cada vez mais global. Logo, em nome da própria defesa do seu espaço local, as empresas têm mesmo de competir.

Esta realidade tem profundas consequências económicas, potenciando a própria dinâmica da globalização. E onde alguns verão riscos e problemas, outros verão oportunidades de crescimento. No futuro, estes serão os países vencedores, aqueles continuarão a empobrecer.

Mas tem também profundas consequências sociais. Novos negócios de base tecnológica conquistaram um sucesso meteórico, originando um novo conjunto de empreendedores e novos modelos de criação de valor. Com eles surgiu uma também nova geração de "nativos digitais", habituada a viver tecnologicamente, a aprender de forma interactiva, a conectar-se constantemente com grupos variados espalhados pelos cinco continentes e a induzir fenómenos de "mass-colaboration".

Este "admirável mundo novo" está aí, propiciando uma verdadeira revolução ao nível do enquadramento empresarial e social. Agora e cada vez mais, os factores relevantes serão a abertura, o trabalho entre os pares, a partilha dos recursos e o âmbito global da acção de todos os intervenientes. Inevitavelmente, haverá maior volatilidade e mais ciclos de mudança. No reverso, e em definitivo, desaparecerão os modelos de emprego do passado, retirando base às reivindicações tradicionais e implicando uma muito maior pressão sobre a mobilidade, a adaptabilidade continuada e, claro, a produtividade.

Para um país como Portugal, o horizonte permite esperança. Num tal contexto, ser remoto ou pequeno - assim como não dispor de grandes recursos naturais - deixa de ser tão limitador.

Uma regra básica mantém-se válida: como em todas as viragens de ciclo anteriores, as organizações, as sociedades ou os países vencedores serão aqueles que entendam a nova corrente de conhecimento humano e a traduzam em ideias e aplicações úteis e geradoras de valor.

Sem interiorizar isto, Portugal não vai lá.

Sofia Galvão

Texto publicado na edição do Expresso de 21 de Novembro de 2009