Antonio Machado disse um dia, "Que difícil é, quando tudo baixa, não baixar também". Hoje, olhando para Portugal, sinto o eco desse desabafo. E a sua lucidez certeira arrepia-me.
Mas, enquanto vivemos tempos medíocres, viscosos, sujos, feitos de uma degradação transversal e endémica, o mundo avança sem esperar por nós.
Por isso, no âmbito da maioria dos bens transaccionáveis, as nossas empresas serão forçadas a integrar-se na gradual mundialização das cadeias de produção - e das duas uma, ou asseguram os mesmos níveis de qualidade, inovação e produtividade, ou ficam irremediavelmente de fora. Por força da quebra de barreiras, também nos serviços a competição será cada vez mais global. Logo, em nome da própria defesa do seu espaço local, as empresas têm mesmo de competir.
Esta realidade tem profundas consequências económicas, potenciando a própria dinâmica da globalização. E onde alguns verão riscos e problemas, outros verão oportunidades de crescimento. No futuro, estes serão os países vencedores, aqueles continuarão a empobrecer.
Mas tem também profundas consequências sociais. Novos negócios de base tecnológica conquistaram um sucesso meteórico, originando um novo conjunto de empreendedores e novos modelos de criação de valor. Com eles surgiu uma também nova geração de "nativos digitais", habituada a viver tecnologicamente, a aprender de forma interactiva, a conectar-se constantemente com grupos variados espalhados pelos cinco continentes e a induzir fenómenos de "mass-colaboration".
Este "admirável mundo novo" está aí, propiciando uma verdadeira revolução ao nível do enquadramento empresarial e social. Agora e cada vez mais, os factores relevantes serão a abertura, o trabalho entre os pares, a partilha dos recursos e o âmbito global da acção de todos os intervenientes. Inevitavelmente, haverá maior volatilidade e mais ciclos de mudança. No reverso, e em definitivo, desaparecerão os modelos de emprego do passado, retirando base às reivindicações tradicionais e implicando uma muito maior pressão sobre a mobilidade, a adaptabilidade continuada e, claro, a produtividade.
Para um país como Portugal, o horizonte permite esperança. Num tal contexto, ser remoto ou pequeno - assim como não dispor de grandes recursos naturais - deixa de ser tão limitador.
Uma regra básica mantém-se válida: como em todas as viragens de ciclo anteriores, as organizações, as sociedades ou os países vencedores serão aqueles que entendam a nova corrente de conhecimento humano e a traduzam em ideias e aplicações úteis e geradoras de valor.
Sem interiorizar isto, Portugal não vai lá.
Texto publicado na edição do Expresso de 21 de Novembro de 2009