Sofia Galvão (www.expresso.pt)

No domingo, os portugueses vão votar. E, à noite, para lá do ruído de todas as análises e comentários, vão querer saber duas coisas essenciais: quem vai ser o próximo primeiro-ministro de Portugal, e qual a base de sustentação do futuro governo?

Há muito tempo que não se sentia tanto a importância de uma eleição. Há uma enorme ansiedade no ar. Há mesmo um certo nervosismo. Portugal está suspenso à espera dos resultados. Não é só nos meios políticos e mediáticos; também no país real, a expectativa é imensa: na administração pública, nas empresas, nas famílias, pressente-se que o futuro depende destes votos e sustém-se, aguarda-se ou adia-se... Como pano de fundo, as eleições são tema de quase todas as conversas - transversalmente, entre pessoas comuns e anónimas, como há muito não se ouvia.

José Sócrates ou Manuela Ferreira Leite? Governo PS ou governo PSD? Governo de minoria ou governo com apoio maioritário? Maioria de esquerda? Ou maioria de direita?

Tudo isto se joga no próximo domingo. E, no entanto, no silêncio solitário de cada cabina de voto, na decisão final de cada cruzinha, uma pergunta bem mais directa e chã interpelará todos os eleitores: Sócrates, sim ou não?

A marca destes quatro anos e meio começa e acaba na figura, no estilo, na atitude e na obra do primeiro-ministro. O governo foi feito à sua imagem e à sua medida. E foi, no melhor e no pior, apenas e só o seu reflexo.

Ora, no próximo domingo, e antes de tudo o mais, é este racional de poder que vai a votos. Muito para lá do puro escrutínio do que foi ou não realizado, das promessas cumpridas ou incumpridas, dos actos praticados ou omitidos, sindicar-se-á o primeiro-ministro e o seu modo muito próprio de entender e exercer o poder.

Por opção ou por inevitabilidade, Sócrates jogou a sua sobrevivência numa estratégia de alto risco. Secando tudo à volta, ficou sozinho na arena. E sozinho enfrenta o sufrágio. Num fenómeno sem precedentes, não é o PS que vai a votos, mas o seu caudilho - na lógica inescapável do tudo ou nada.

Os portugueses sabem bem que assim é e, por isso, o seu voto terá um sentido claro: manter ou não Sócrates.

Votando no PS, validarão a continuidade do caminho. Votando no PSD, apostarão na mudança. Votando em qualquer outro partido, protestarão sem consequência e, no fim, abrirão o espaço que ainda poderá permitir o benefício da dúvida (aliás, se Paulo Portas falar verdade, numa solução necessariamente à esquerda).

Potenciando o alcance radical desta escolha, a alternativa a Sócrates é o seu exacto oposto. Na forma e na substância, Manuela Ferreira Leite é tudo o que Sócrates não é e tem tudo o que Sócrates não tem.

Domingo, os portugueses compararão. E, para o mal ou para o bem, Portugal depende do seu critério.

Sofia Galvão

Texto publicado na edição do Expresso de 25 de Setembro de 2009